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Nico Nicolaiewsky: a música e o humor de Tangos e Tragédias

O gaúcho Nico Nicolaievsky, falecido em fevereiro de 2014, aos 56 anos, tornou-se nacionalmente conhecido por seu personagem Pletskaya, do espetáculo Tangos e Tragédias, no qual atuou por três décadas, ao lado de Hique Gomez.

No final dos anos 70, foi um dos fundadores do Saracura, um dos mais importantes grupos musicais urbanos do Rio Grande do Sul.

Nesta entrevista, concedida em dezembro de 2012, nos revelou um pouco de sua trajetória como ator, músico e compositor.

Como ocorreu o encontro de Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky? E como surgiu a ideia de criar o Tangos e Tragédias?

O Hique estava começando a estudar violino, eu estava saindo da banda que eu tinha, chamada Saracura, e tinha muita curiosidade em tocar com um violinista. Começamos a estudar juntos, fazendo arranjos de tangos do Vicente Celestino.

Qual sua formação musical e teatral?

Eu estudei piano clássico dos sete aos dezessete anos de idade. Fiz alguns cursos de teatro e expressão corporal. Estudei balé contemporâneo e cheguei a me apresentar como bailarino, com 19 anos. Larguei o balé por um problema na coluna e voltei para a música, decidido a fazer música popular. Estudei contraponto com o Joachim Koellreuter, durante um ano, em aulas particulares semanais, no Rio de Janeiro, em 1986.

A tragédia, essencialmente mitológica, culto a Dionísio, segundo Aristóteles é também uma espécie de catarse.  Por que o título Tangos e Tragédias num espetáculo de humor?

Quando criamos o espetáculo, não estávamos pensando em fazer humor. Queríamos tocar aquelas canções melodramáticas e trabalhar. O nome veio, porque as primeiras músicas do repertório eram quatro tangos do Vicente Celestino e todos muito trágicos. Como todo tango é dramático, o titulo era um pouco a brincadeira da redundância.

Há alguma preocupação  ideológica no processo criativo de Tangos e Tragédias?

Acho que em todo processo criativo passa por questões ideológicas, que vão sendo resolvidas na hora. No Tangos isso nunca foi uma preocupação ou uma pré-ocupação.

Quais são as principais referências artísticas de Nico Nicolaiewsky?

A música dos musicais de cinema, Piazzola, a música ídiche.

O teatro é mero entretenimento ou tem o dever de levar o público à reflexão?

Nem uma coisa nem outra. O teatro pode ser muitas coisas. Pode ser entretenimento de boa qualidade, sem ser reflexivo. Pode ser altamente reflexivo e muito ruim e chato. Eu acho que o teatro não tem que, obrigatoriamente, levar à reflexão, mas que, obrigatoriamente, tem que ser de qualidade.

Durante toda a trajetória de Tangos e Tragédias que momento você destaca como o mais inusitado?

Faz uns três anos, um fã, com sua namorada, parou de dançar o Copérnico e pediu a moça em casamento. Ela aceitou. Foi inacreditável!

Suas raízes judaicas acrescentam um toque da leveza humor judaico ao trabalho do Tangos e Tragédias?

Eu nunca tinha pensado nisso. Acho que sim.

O que há em comum entre o maestro Pletskaya, seu personagem em Tangos e Tragédias, e seu trabalho solo, como músico?

Eu acho que o Tangos tem tudo a ver com a minha carreira solo. Gosto de experimentar em variadas formas. Antes do Tangos, tinha uma banda que chamava Saracura. Fizemos música urbana com toque folclórico e de rock, de 1978 a 1983, o que era bem experimental para a época. No meu primeiro disco, havia sonoridade com tuba, piano de faroeste, bateria e acordeon. Depois, escrevi e gravei uma ópera, As Sete Caras da Verdade, com uma sonoridade bem diferente de tudo que eu havia feito anteriormente. Meu disco Onde está o amor?, é pop-romântico. Acho que o que define a minha carreira é a experimentação. A questão é que o Tangos é um experimento muito bem sucedido, mais do que os outros.

Que resumo faz de tantos anos de trabalho com Hique Gomez? Houve percalços? Pensou alguma vez em parar com o Tangos e Tragédias? Alguma novidade para as novas temporadas do espetáculo?

Pensei muitas vezes em parar de fazer o Tangos. É muito difícil manter um trabalho em dupla por tantos anos. Os projetos futuros são para os outros projetos, pois com o Tangos já desisti de fazer projetos. É muito estressante quando eu e o Hique temos que pensar em algum projeto para o Tangos. Já descobri que o melhor, nesse caso, é deixar rolar.

Sobre os autores da entrevista: Angelo Mendes Corrêa é doutorando em Arte e Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista. Itamar Santos é mestre em Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), professor, ator e jornalista.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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