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Me, Myself and I: saúde mental e redes sociais

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O dia da Internet Segura é comemorado a 7 de Fevereiro,em mais de 200 países, criado pelas Redes INSAFE-INHOPE e Comissão Europeia, em 2003, com o principal objetivo a conscientização das pessoas sobre o uso responsável e seguro da internet. Importa, por isso, trazer à consciência os benefícios e riscos do acesso à internet.

Entre várias temáticas do online, desde a segurança, desinformação, redes de pornografia, entre outras, uma das mais importantes é dos riscos das redes sociais, onde a maioria das pessoas gasta a maior parte do seu tempo.

Ao todo, existem 5,3 bilhões de usuários da internet no mundo. No entanto, cerca de 2,7 bilhões nunca tiveram acesso à rede (o que dá cerca de 37% da população mundial sem acesso à net). Nestes 5 bilhões de usuários, um factor transversal em todos os países é que as redes sociais estão em todo o lado a todas as horas, com tanto mais tempo, quanto mais novas são as pessoas.

E os dados da investigação científica são preocupantes e recorrentes: quanto mais tempo se passa nas redes, maior insegurança, comparações, ansiedades, tristeza e anulação ou medo de ser igual a si próprio ou excentricidade para ganhar audiência de grupo ou “uma turma”, numa lógica de ideologia comunitária que se agrupa de forma linear, entre ou “estás no meu grupo” ou “estás contra mim”, o que facilita a ofensa rápida com todos os que pensam diferente, como se fossem piores ou melhores. 

Esta realidade é acentuada nas idades mais jovens, e por isso, importa consciencializar que, sem regras, sem comunicação e sem estrutura, abdicamos da liberdade, perdemos o respeito mútuo para funcionarmos mentalmente e deixamos de ser socialmente úteis e saudáveis. Se a narrativa for me, myself and I contra o mundo, teremos sérios problemas de apoio social e sentimento de pertença. Daí que a fatura seja sempre a perda de saúde mental.

É fundamental ouvirmo-nos uns aos outros e colocar travões no jogo de influências descontrolado das redes sociais, entre algoritmos e movimentos de intenções pouco genuínos.

Ora, estando as crianças e jovens em crescimento, estes estão constantemente a procurar referências para encaixar e se sentirem aceites, ao mesmo tempo que estão a testar os seus limites, nos contextos e mundos em que estão inseridos.

Neste sentido, quaisquer pais ou educadores que facilitam um desenvolvimento demasiado liberal, alegando que é para não bloquearem a expressão dos seus queridos filhos, estão a aumentar, garantidamente, o risco de vulnerabilidades e conflitos mais tarde, dada a dependência e exigência que estes passam a ter. A aceitação cega de tudo com medo de definir regras e limites claros, torna pais e educadores reféns dos impulsos e desejos primários da criança ou adolescente, assumindo como direito o que os pais se sacrificam e escolhem dar, em vez de gratidão pelo que recebem sem lutar para ter.. Esta realidade cria hábitos nessas crianças que levam para a idade adulta, como se fosse sempre o mundo a adaptar-se a elas, em vez da realidade evidente de que somos nós que nos adaptamos ao mundo. 

Mas vejamos porquê. Crescer sem referências ou orientação com medo de condicionamentos ou bloqueios, leva a que as crianças queiram alargar os limites constantemente, quer em mundos reais, quer em imaginários. Como o conseguem sempre, as crianças tornam-se insatisfeitas e sempre ansiosas, numa ânsia constante de exploração de mais e mais, atrás de alguma coisa, alguém ou grupo que lhe dê eco e conforto temporário, até ao próximo momento de insatisfação. Ou seja, se não encontram estrutura ou referências em casa, naturalmente vão procurar essa estrutura e referências fora, numa ânsia constante de validação, comparação e aceitação temporária. Daí a volatilidade de interesses, grupos, amigos e a falta de consistência, persistência e resistência à frustração.

Essa liberdade sem regras no acesso à internet,  leva a um mundo de insatisfação insaciável e de dependência, propenso a ansiedade, insegurança e doença mental, por falta de estrutura que sirva de referência de orientação para a estabilidade do que é e do que tem.

Quem encontra uma zona de conforto, tende a estabilizar e a criar valor, protegendo esse núcleo duro e fazendo novas explorações para acrescentar ao que tem, e não para preencher um vazio constante por falta de estrutura.

As redes sociais alimentam-se e lutam pela atenção de quem as usa, pelo que todas as notificações são desenhadas para captar a atenção o máximo tempo possível, criando necessidades por comparação com o que não temos, alimentando a insatisfação, insegurança e ansiedade devido à constante aquisição rápida por tudo o que quer.

Esta realidade alimenta a imaturidade própria dos impulsos infantis que se alarga para a puberdade e mantém na adolescência, mantendo uma excessiva sensibilidade às emoções negativas e frustrações (daí a ofensa fácil e exigência constante), o que traz um estado de confusão permanente.

Como tentativa de alívio, e na melhor das intenções, a internet facilita as partilhas nas redes sociais, que criam um efeito iatrogénico social (conceito clínico relativo a uma doença causada pelo tratamento de outra). Dado que as redes sociais viralizam, criam um contágio social e uma epidemia psicogénica entre pares, que acabam por validar e fazer acreditar como factos, conceitos e ideologias irreais ou radicais que se alimentam destas inseguranças crónicas, bloqueando ou desencaminhado vidas, dado os danos permanentes causados em fases de desenvolvimento temporárias.

Concluindo, é preciso, sem dúvida, supervisão no acesso à internet e orientação de conteúdos e tempo de acesso no desenvolvimento. No acesso à internet, há aplicações de telemóvel ou computadores, para os adultos poderem gerir o acesso às redes e tempos de internet dos seus filhos, como o Family Link da Google ou o Family Safety da Microsoft (ambos gratuitos), entre outros que facilmente encontram nas App Stores Android, Apple ou Microsoft.

A literacia tecnológica é mais urgente, fundamental e importante do que nunca. Não nos desleixemos no trabalho diário que dá educar filhos ou crianças, principalmente desde a primeira infância, pois esta fase do desenvolvimento é o pilar essencial da construção da personalidade para que tenhamos adultos saudáveis, competentes e úteis à sociedade. Só com adultos capazes é que protegemos a manutenção das democracias (realidade tão frágil e recente na história da humanidade, que só porque nascemos nela, pensamos que é garantida).

Um abraço estóico,
Ivandro Soares Monteiro

Ivandro Soares Monteiro | PhD

Psicólogo Clínico / Psicoterapeuta | Fundador & CEO da EME SAÚDE

Psicólogo das OrganizaçõesAssociate partner CROWE PT | 

Professor Universitário @ICBASAssistente | Whatsapp 

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