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Malas que trazem raízes

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Foi no dia 4 de agosto de 2023 que deixei uma casa vazia. A casa onde iniciei uma vida a dois, onde engravidei, onde vi o meu filho crescer durante os dois primeiros anos da sua vida. Não empacotei só móveis e roupas, guardei também memórias de momentos felizes para recordar sempre que a saudade bater à porta. O vazio não ficou só na casa, levei comigo e faz parte dos meus dias desde então. Num vazio que não é só meu mas também daqueles que amamos e ficaram… dos avós que olharam o neto com lágrimas nos olhos na incerteza de quando seria a próxima vez que o irão pegar ao colo. 

Mas fomos… com um nó na garganta e as pernas trémulas fomos, levando na bagagem aquilo que muitos outros levam… dor, medo, incerteza, fé, esperança, sonhos. 

E de repente parece que não sabemos onde estamos. Olhamos pela janela e não vemos o Sr. Américo a passear a Mafy. Saímos à rua e as vozes não são familiares nem compreendemos bem o que dizem. E nesse momento olho para o meu filho que brinca alegremente ao pé de mim, sorrio e penso que ele só precisa de nós para ser feliz. Isso faz-me ter a coragem e força necessárias todos os dias.”

Este é um relato com o qual muitos de nós certamente nos identificamos. A emigração é para muitos uma solução e cada vez mais pessoas tomam esta decisão, tendo em conta as circunstâncias sociais, económicas, politicas, etc., de Portugal. 

Para muitos é uma decisão “forçada” mas independentemente dos motivos é sempre uma situação complexa que envolve vários desafios. É natural sentir-se sozinho, perdido, confuso, ansioso e/ou triste. É muito importante aceitar e permitir-se sentir a sua dor. Seja gentil consigo mesmo pois está a enfrentar grandes mudanças e desafios. 

Outras dicas que poderão ajudar nesta fase:

– Cuide de si. Faça uma alimentação saudável, durma as horas necessárias e pratique exercício físico. O auto cuidado é fundamental para a nossa saúde física e mental;

– Mantenha um contacto frequente com a sua rede familiar e de amigos (atualmente as novas tecnologias facilitam este contacto);

– Progressivamente, procure conhecer outras pessoas e criar novas ligações afetivas;

– Procure ajuda. Se considera que está a ser demasiado difícil um psicólogo pode ajudar neste processo de adaptação. 

Seja paciente e lembre-se que, apesar das dificuldades, será uma experiência que lhe trará aspetos positivos, que o irá fazer crescer, desenvolver competências e conhecer-se melhor a si mesmo. 

Maria João Azevedo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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