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Mais sobriedade, concisão, e dava um soneto

com a tua letra, o teu ardor, a tua emoção, pus-me a escrever uma carta:
uma carta a dizeres-me o quanto me queres, desejas e amas – uma carta de amor.
para ser sincero, foi mais que uma carta,
foi um poema – um poema, permito-me acrescentar, penetrante, um poema notável.

tenho lido a carta vezes e vezes sem conta,
e de cada vez, imagina tu,
e de cada vez imagino eu que um dias destes virás, um dia destes virás
e com a tua boca dir-me-ás,
demoradas, nítidas, sonantes,
todas as palavras na carta escritas,
imagino que virás, do teu amor tudo dirás,
e no dia seguinte tudo repetirás.

Mais demoradas, nítidas e sonantes
– oh eu, oh vida, oh assombro, oh deus, ou sei lá quê –
mais demoradas, nítidas e sonantes
são porém as palavras da razão:
ela diz-me que tu não tens uma letra assim, tão desesperada, tão ilegível;
ela diz-me que tu, amar, não, tu não me amas, não;
ela diz-me que um outro amas,
um outro amas, um que, cartas de amor, tampouco sabe o que são;
ela diz-me – dizem-no as tuas amigas também –ela diz-me que ele, amar, não,
ele não te ama, não.

Entretanto, eu, nesta perdição, neste tormento, nesta pestilenta incerteza, nesta masmorra,
neste sem saber que fazer, só hoje e ontem, em resposta à tua carta, neste furor,
já te escrevi uma dúzia de cartas de amor.

dm

 

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