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Lusofonia | Internacionalização | Língua

Desde há muito tempo que a cultura portuguesa se pode ler, num dos quadros possíveis, no jogo tenso entre os “estrangeirados” e os “castiços”. Com posturas muitas vezes buçais, a oposição entre a valorização do estrangeiro ou a defesa do nacional, frequentemente desaguou numa cultura popular enclausurada, em nacionalismos que nos colocaram fora do correr dos tempos, ou, por oposição, levou-nos a sistemáticas negações da identidade e dos produtos nacionais, confundindo estrangeiro com qualidade.

Pesar e conciliar a valorização do que é único e irrepetível, com o que nos leva para caminhos de globalização onde, naturalmente, há mecanismos de uniformização, é das mais habilidosas capacidades que uma lusofonia efectivamente pós-colonial tem de conseguir fazer, não caindo nos erros de enclausuramentos que tudo reduzem a um sentido estrito de língua.

A melhor forma de responder aos receios que apenas vêm na CPLP e na lusofonia uma forma encapotada de continuar a relação colonial, encontra-se no aprofundamento do cosmopolitismo, da internacionalização que não se confine a universo algum, nem mesmo ao lusófono. Aqui, as universidades têm um papel único criando dinâmicas de internacionalização das instituições de saber.

Construtivamente e sem complexos, a lusofonia deve ser um jogo de dupla natureza: ao aprofundar a dimensão comum que reside, essencialmente, na língua, as instituições de Ensino Superior devem perceber que a internacionalização não se esgota numa lusofonia apenas falante de português. Uma efectiva lusofonia deve integrar na sua natureza a matriz que há séculos a tem sempre acompanhado: o correr para o desconhecido, o ir ao encontro do desconfortável e aí encontrar desafios e, por isso, crescer.

Lusofonia tem de ser, inevitavelmente, uma porta aberta para o global, e não o fecho num provincianismo monolinguista que, apesar do potencial pluricontinental, seja castrador das capacidades de crescimento e de constante revivificação da própria lusofonia.

A lusofonia não pode ser desculpa nem tolhimento para a não abertura ao mundo, ou não tivesse sido exactamente esse sentimento de apelo pelo desconhecido que esteve na base do nascimento de um mundo falante de português – a lusofonia construi-se falando-se mandarim na China, Hindi na Índia, mas também malaio, concani, bantu, guarani, entre tantas outras línguas aprendidas para permitir o contacto, sem falar na língua franca dos séculos XIV a XVIII, o latim.

No limite, só teremos uma efectiva e sólida lusofonia se cada um dos seus membros tiver uma voz activa no panorama mais vasto de ciência e cultura. A lusofonia e a lusoesfera serão meios comuns para catapultar e rentabilizar potencialidades, não o cantinho conhecido onde se busca o mais do mesmo, perdendo-se o comboio da globalização e do desenvolvimento competitivo.

Afirmando a potencialidade da lusofonia, as instituições de Ensino Superior devem ser a porta para que toda e qualquer parte do mundo lusófono possa ter acesso ao mercado global de ensino, à inovação e aos meios de financiamento, aos concursos e às redes que, nos dias de hoje funcionam em inglês. Só sendo parceiro nessa definição de globalização poderemos dar futuro a uma lusofonia cosmopolita, desempoeirada, parceira igual do processo de pós-modernidade.

 

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