Lusoamericano “rei da batata-doce” pede reforma na imigração e civilidade
O lusoamericano Manuel Eduardo Vieira, conhecido como “rei da batata-doce” e uma das grandes figuras da diáspora portuguesa na Califórnia, quer civilidade na eleição presidencial norte-americana e, após esta, uma reforma da política de imigração.
“A imigração é das coisas que mais nos preocupa”, disse o comendador Vieira em entrevista à Lusa, na sede da sua empresa A.V. Thomas Produce em Atwater, Califórnia. “Não sou a favor de entrarem montes de ilegais, claro, mas se não forem os imigrantes, agricultura, agropecuária e construção não funcionam”.
Manuel Eduardo Vieira criou o seu império de batata-doce nos anos setenta e tornou-se no maior produtor e embalador do alimento nos Estados Unidos. Cerca de 1.500 pessoas trabalham na sua fábrica e a maioria são imigrantes.
“Uma das coisas que nós precisamos é de imigração”, afirmou o empresário. “O país precisa da mão-de-obra não qualificada. Quem é que pensam que trabalha o terreno, que planta, faz irrigação? São só os imigrantes. Se estão legais ou não estão, não sei”.
O lusoamericano, que emigrou do Pico para o Brasil nos anos sessenta e depois chegou à Califórnia, considera que uma das prioridades da próxima administração na Casa Branca deve ser a reforma da imigração.
Apertando mãos e dando palavras de encorajamento aos trabalhadores na sua fábrica, Vieira quer melhores condições para os imigrantes e defende a legalização dos ilegais que já estão no país, trabalham, pagam impostos e têm famílias.
O empresário, que vive em Livingston, pretende votar presencialmente, mas não dá como certo o seu sentido de voto. “Ainda existe uma enorme percentagem de indecisos. Eu também sou um deles”, afirmou.
Para Vieira, que viveu num Portugal fascista e num Brasil controlado por uma ditadura militar, o sonho americano foi o primeiro contacto com a democracia. O português mostra-se agora insatisfeito com o ambiente político.
“Está-se a passar algo nos Estados Unidos que é muito diferente daquilo que eu vi quando cá cheguei e durante muitos anos”, afirmou. “Resido aqui há 52 anos e pela primeira vez um candidato que foi derrotado não aceitou a vitória do outro e continua a não aceitar, nem foi à tomada de posse”, apontou. “Isto nunca tinha acontecido antes”.
Vieira disse ter simpatia por um partido mas que nem sempre vota no candidato desse partido, optando por escolher conforme o histórico e as atitudes da pessoa em causa. O tom da campanha atual é, disse, inadmissível numa democracia.
“Há insultos. Há palavras de baixo escalão. Há frases que não deviam ser proferidas”, afirmou. “E isto vem em parte dos candidatos que insinuam se não votares em mim, eu não vou ser teu amigo, pelo contrário vou ser teu inimigo e vou retaliar. Isso não é bom para a democracia. Isso não é democracia”.
Além da imigração, a política externa é o assunto que mais preocupa Manuel Eduardo Vieira, que quer ver os Estados Unidos a continuar a sua cooperação com os aliados da NATO.
“O meu receio maior ainda é na parte internacional”, afirmou, referindo que considera Vladimir Putin perigoso. “Se este país deixar de contribuir, deixar de apoiar as diretrizes da NATO, podemos ter grandes problemas”.
Já a comunidade portuguesa do vale de São Joaquim, considerou, “está muito bem” e mantém as suas tradições. “Há um alicerce muito forte para que as irmandades, principalmente em honra e louvores do Espírito Santo, continuem”.
Os portugueses também continuam a eleger congressistas lusodescendentes, o que é importante para os seus interesses. “Nós apoiamos todos por igual quando há um candidato lusoamericano”, referiu o empresário.
O que mais preocupa a comunidade é a economia e inflação, referiu, salientando que houve um aumento considerável dos preços. Ainda assim, o português indicou que a economia norte-americana está bastante melhor que outras e que o PIB do país é muito superior.
Apontando que nenhum analista consegue dar certezas sobre o resultado das eleições, porque Donald Trump e Kamala Harris estão empatados, o comendador mostrou-se algo otimista com o futuro e a resiliência da democracia norte-americana. No entanto, quer ver maior civilidade na eleição e na política.
“Não gosto de gente que mente. Nós temos que ser verdadeiros olhos nos olhos. Acho que é um dos segredos do meu sucesso”, afirmou o empresário, que recebeu a Comenda da Ordem do Mérito em 2011 e acumula duas dezenas de prémios e condecorações. Há uma estátua em sua honra no Pico.
“Lamentavelmente, os governantes estão mais preocupados com o seu partido e consigo próprios do que com o bem do povo”, apontou.
Ao vencedor a 05 de novembro, deseja sorte. O que vai ser eleito eu não sei e ninguém sabe. Não há bola de cristal”.