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Já decidi.

É aqui que eu quero ficar, entre esta lavra de milho verde e o rio que a mantém viva.

Um dia, será a minha vez. Fisicamente, num qualquer lugar do mundo mas, por dentro, estarei na sanzala de areia fina e vermelha, sentado, pernas esticadas, enfiadas nas sandálias de pneu de camioneta. Um pano branco com quadrados azuis, há-de cobrir-me desde a cintura. Estarei sentado assim, na esteira, enxotando as moscas e as galinhas que ciscarão à minha volta, como sempre. Não terei a carapinha branca, porque já não terei cabelo mesmo, mas a barba, há-de identificar-me à do soba mais velho. Quantas vezes tece-mos os nossos mujicos à sombra daquele imbondeiro?

Vou encostar-me na «casa» da Tina, porque sei que não tarda, alguém virá buscar-me. E haverá funje, e vestes coloridas, e carpideiras, e homens a cochichar, e rodará katembe entre todos, enquanto houver paus a arder na pequena fogueira.

Depois, virei de padiola para aqui, o sítio que escolhi. De mim, ficará para memória, um alto de terra vermelha, onde hão-de cravar uma bacia de esmalte, que um homem, mesmo do outro lado, terá de se lavar. Deixarão uma garrafinha de gindungo, para que não me falte a força na verga, tão afamada na sanzala. E terei também, como companhia, uma pequena cabaça com katembe, para as noites mais frias, ou manhãs mais enevoadas.

Assistirei, pelos primeiros raios do dia, à passagem das mulheres, carregando o kanuko nas costas, a caminho da lavra e aos homens, de catana na mão, para roçar o capim que teima em invadir o milho.
Ao fim do dia, as mulheres hão-de voltar com um feixe de gravetos à cabeça, para acender o lume para a janta. Nas costas, o kanukos dormem.

Estarei tranquilo. Estarei feliz, se é que há disso do outro lado.

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