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Luxemburgo

Há portugueses no Luxemburgo a dependerem de solidariedade

Centenas de portugueses no Luxemburgo estão a recorrer a associações de solidariedade para não passarem fome, após perderem os empregos precários devido à pandemia, mas a maioria, mesmo sem meios, recusa regressar a Portugal, de onde já partiu pobre.

“Têm fome. Estão em casa e sem o que fazer, o que conduz a discussões. As crianças não entendem. É muito triste”, afirma à Lusa o português José Trindade, fundador da Associação CASA, um centro de apoio social que atualmente apoia quase 80 famílias portuguesas a braços com o desemprego.

José Trindade, que fundou este centro em 1980, para ajudar outros portugueses a ultrapassar as dificuldades que sentiu quando emigrou para este país, nos anos 70 do século passado, não esconde a preocupação com a crise atual, que classifica como uma das piores de sempre.

Apesar da maioria dos portugueses no Luxemburgo terem, para já, boas condições de vida, os que chegaram nos últimos anos através de agências de emprego, com contratos precários, não conseguiram até hoje uma estabilidade capaz de aguentar o impacto de uma crise como a que se vive.

“Muitos ficaram sem emprego de um dia para o outro, principalmente nas áreas onde os portugueses mais trabalham: limpezas, construção civil e restauração”, disse.

O Luxemburgo, onde vivem perto de 100 mil portugueses (cerca de um sexto da população, estimada em 600.000 habitantes), tem atualmente em vigor novas medidas de combate à pandemia, como o recolher obrigatório, uso de máscara obrigatório em ajuntamentos com mais de quatro pessoas, encerramento de cafés e restaurantes às 23:00, limitação a quatro do número de pessoas recebidas em casa e proibição de ajuntamentos com mais de 100 pessoas.

Na CASA, os portugueses encontram uma “resposta imediata”, pois ficaram sem qualquer rendimento e principalmente porque também já auferiam baixos rendimentos, num país onde “ninguém consegue viver sem dinheiro” que assegure, nomeadamente, o pagamento da habitação.

Mensalmente, este centro social investe cerca de 3.000 euros no apoio a estas famílias, uma despesa que cresce cada vez mais e que obriga a associação a recorrer a iniciativas criativas para obter fundos, como a recente venda de castanhas.

Mas há outras necessidades prementes, como o apoio psicológico a estas famílias em crise, que ali chegam num estado emocional “gravíssimo”.

A falta de verbas também tira o sono a José Trindade, que manifesta preocupação com as associações que antes da pandemia de covid-19 apoiavam a comunidade portuguesa através de iniciativas que iam muito além das manifestações culturais e que agora estão de portas fechadas e em risco de fechar.

E as preocupações também se estendem à CASA, onde “41 pessoas trabalham para ajudar a resolver os problemas dos outros”. “Estas pessoas precisam do emprego”.

Além dos portugueses que chegaram mais recentemente com contratos precários de trabalho, os que ocupam tarefas mais diferenciadas e estão atualmente em teletrabalho também estão em risco. “Já ouvi dizer que quando o teletrabalho acabar já não voltam para os seus postos de trabalho”, disse.

Segundo José Trindade, a situação irá piorar quando os trabalhadores ficarem sem as “almofadas sociais” que o Estado luxemburguês oferece.

Por todas estas razões, o dirigente associativo defende que o Estado português deve olhar mais para as instituições.

 

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