A cidade de Guimarães prepara-se para ser contagiada por toda a criatividade e liberdade tão íntimas do jazz, com a qualidade que o jazz nacional e internacional alcançam ao longo de um programa que inclui nomes como Maria Schneider & Clasijazz Big Band, Wadada Leo Smith, Ambrose Akinmusire, John Escreet, Dzijan Emin com Orquestra de Guimarães, Sara Serpa, André Matos, Jeff Ballard e Craig Taborn, Tommaso Perazzo, Marcelo Cardillo, entre muitos outros.
De 7 a 16 de novembro, a edição de 2024 do Guimarães Jazz apresenta 12 concertos, Jam Sessions e Oficinas de Jazz, com incidência nos palcos do Centro Cultural Vila Flor, e extensão ao Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e ao Convívio Associação Cultural. As assinaturas e os bilhetes para acesso aos vários momentos festival encontram-se disponíveis nos locais habituais.
A 33ª edição do Guimarães Jazz dá provas da sua reputação e da sua vitalidade através de um cartaz que aposta no jazz criativo e em sincronia com o seu tempo. O programa de concertos destaca-se pela defesa da posição autoral dos músicos – contra a tendência de automatização e, consequente uniformização, do ato criativo –, pela atual qualidade do jazz nacional – sinal de reconhecimento de que a realidade portuguesa mudou muito ao longo destes últimos anos e que a qualidade dos projetos e dos instrumentistas nacionais tem verificado uma evolução muito positiva –, por uma reforçada componente orquestral e por uma natureza comparativamente descentrada da tradição jazzística mais clássica ou purista, apesar de se preservar um núcleo de concertos firmemente situados no perímetro da raiz afro-americana do jazz, conforme ressalva o diretor artístico do festival, Ivo Martins.
A abertura da 33ª edição do Guimarães Jazz, a 7 de novembro, será protagonizada pelo quarteto liderado pelo poderoso trompetista Ambrose Akinmusire – de regresso a Guimarães oito anos depois de uma atuação memorável neste palco –, o qual se apresentará acompanhado pelo Mivos String Quartet, bem como por quarteto composto por uma produtora de música de dança, um vocalista e um baterista, num formato heterodoxo e praticamente inédito que suscita grandes expetativas.
Na primeira sexta-feira do festival, dia 8, será a vez de subir ao palco um quarteto inédito coliderado pela vocalista Sara Serpa e pelo guitarrista André Matos (ambos músicos portugueses com uma carreira no circuito jazzístico norte-americano que prestigia o jazz português), os quais surgirão acompanhados por um colaborador habitual (o experiente baterista Jeff Ballard) e por Craig Taborn, um dos grandes pianistas de jazz contemporâneos que valerá certamente a pena reencontrar.
No sábado da primeira semana, 9 de novembro, está prevista uma programação dupla: durante a tarde, será possível ouvir o prestigiado grupo de percussão português Drumming – um ensemble excecional de músicos que tem desenvolvido ao longo das últimas duas décadas uma obra impressionante de interpretação de reportório erudito e de fusão do mesmo com o jazz, que neste concerto se apresentará em colaboração com o pianista Daniel Bernardes numa revistação e homenagem ao compositor György Ligeti, reconhecidamente um dos mais influentes do século XX; à noite, no palco principal do festival, apresentar-se-á o primeiro dos projetos puramente orquestrais desta edição: a reputadíssima compositora e arranjadora Maria Schneider, um dos nomes maiores do jazz orquestral da atualidade, regressa a Guimarães para uma revisitação retrospetiva da sua obra dirigindo a Clasijazz – uma orquestra andaluz criada recentemente e formada por um naipe de músicos competentes da cena jazzística espanhola.
Depois de uma primeira semana marcada pela diversidade de estilos e formatos, a segunda semana abrirá a 14 de novembro com aquela que é, pela dimensão colossal da sua obra e percurso musical, sem dúvida a grande figura de cartaz do Guimarães Jazz 2024 – o trompetistaWadada Leo Smith, um músico fundamental dos últimos cinquenta anos que, em Guimarães, se apresentará em quinteto para um concerto que se antecipa histórico. No dia seguinte, o público assistirá à atuação do trio liderado por John Escreet, um pianista portentoso e imprevisível cuja evolução e amplitude criativa justifica a sua atuação pela primeira vez em nome próprio neste palco, naquele que poderá ser um dos momentos altos do festival. A acompanhar o pianista estará uma secção rítmica composta por Eric Revis e Damion Reid, o mesmo alinhamento do trio que gravou recentemente o álbum “Seismic Shift”, de 2022, o qual será previsivelmente o centro da atuação desta formação no festival.
A parceria entre o Guimarães Jazz e a Orquestra de Guimarães terá este ano honras de encerramento e merece também um destaque acrescido, não apenas pelo compositor que a irá conduzir e liderar – o macedónio Dzijan Emin, um músico ainda pouco conhecido mas com um percurso invulgar e extremamente original que irá previsivelmente surpreender o público com a sua fusão criativa de jazz e música tradicional dos Balcãs, uma das mais populares do reportório europeu de tradição folclórica, e que se apresentará acompanhado de oito músicos também da Macedónia –, mas também pela evolução extremamente positiva desta orquestra local, provando assim a pertinência das parcerias assumidas pelo festival com organizações e coletivos fora da sua órbita.
Esta secção colaborativa do Guimarães Jazz completar-se-á com as já tradicionais colaborações com a Orquestra da ESMAE – este ano dirigida pelo quinteto do jovem pianista Tommaso Perazzo que, em 2023, junto com o baterista Marcelo Cardillo, o qual também fará parte deste grupo, causou fortíssima impressão em Guimarães acompanhando o contrabaixista Buster Williams, quinteto esse que será também responsável, como sempre acontece, pelas oficinas de jazz e pelas jam sessions.
A Porta-Jazz propõe o projeto multimédia “Fisuras”, protagonizado por uma formação liderada pelo saxofonista cubano Hery Paz e complementado por uma componente de vídeo da responsabilidade da artista Maria Mónica; a Sonoscopia apresentará uma formação mais alinhada com o fenómeno jazzístico do que em edições anteriores – representado este ano pelo trio liderado pelo trompetista português Luís Vicente e com a participação especial de Camilla Nebbia, uma saxofonista argentina emergente do jazz europeu contemporâneo; e, finalmente, oJoão Rocha Quartet, que conquistou os prémios de Melhor Ensemble e Melhor Arranjo da edição de 2024 do concurso de jazz da Universidade de Aveiro, e o qual terá a curiosidade adicional de ser desta vez protagonizado por jovens músicos que já atuaram no Guimarães Jazz integrados na Orquestra da ESMAE.
E, fazendo parte do corpo de cada edição do Guimarães Jazz, os concertos do festival serão acompanhados em paralelo por outras das suas facetas identificadoras. As Jam Sessions, com lugar no Café Concerto do CCVF e no Convívio Associação Cultural, garantem momentos de improvisação que revelam o lado mais informal do jazz, permitindo ao público um ambiente mais direto e próximo dos músicos. Este ano, serão protagonizadas pelo quinteto do pianista italianoTommaso Perazzo, um músico de enorme talento que se apresentou pela primeira vez no festival, com enorme impacto, no ano passado, ao lado do histórico contrabaixista Buster Williams. A acompanhar Perazzo estará um grupo de músicos emergentes do circuito jazzístico internacional, todos eles instrumentistas de elevadíssima competência musical: Marcello Cardillo, que também atuou no mesmo memorável concerto de Buster Williams, na bateria; a meteórica trompetista britânica Alexandra Ridout; o saxofonista Dylan Band, e, finalmente, o jovem Gavin Gray no contrabaixo.
Por seu turno, as Oficinas de Jazz do festival proporcionam aos estudantes que aspiram a uma carreira profissional na música uma experiência única de trabalho criativo com músicos de elevada qualidade técnica e envolvidos nalguns dos contextos mais fervilhantes da criação jazzística contemporânea. As inscrições (gratuitas) podem ser efetuadas através do formulário disponível online em www.aoficina.pt. Tal como as jam sessions, estas oficinas serão orientadas pelo mesma formação de músicos que acompanha o pianista Tommaso Perazzo – artistas residentes que se deslocam propositadamente a convite do festival e se fixam em Guimarães durante duas semanas por forma a cumprir este propósito educativo de primordial relevância –, que protagonizará também um concerto (16 novembro) que suscita grandes expetativas dada a elevadíssima competência musical dos instrumentistas envolvidos
Considerando que a reputação e a vitalidade do Guimarães Jazz advêm não apenas dos números que sustentam a sua história, mas da sua habilidade para captar influências e dessa forma promover uma relação imaterial entre os músicos e o público, este ano, como é sempre o caso no Guimarães Jazz, o elenco de projetos e artistas apresentados – não sendo necessariamente os mais conhecidos ou os mais favorecidos pela crítica mainstream – foi pensado exclusivamente no sentido de preservar esse pacto de confiança e, assim, defender a pertinência do jazz num contexto frequentemente marcado por processos e discursos hostis a um estilo musical que alguns consideram ultrapassado pelos acontecimentos e, sobretudo, pela evolução tecnológica.
O Guimarães Jazz é uma organização conjunta d’A Oficina, do Município de Guimarães e do Convívio Associação Cultural. Os bilhetes para os concertos do Guimarães Jazz, incluindo a respetiva informação e descontos associados, já se encontram à venda nas bilheteiras do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), da Casa da Memória de Guimarães (CDMG) ou da Loja Oficina (LO), bem como nas várias entidades aderentes da BOL, e online em oficina.bol.pt.