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Gérald Bloncourt: o fotógrafo da emigração portuguesa

No rescaldo do dia 10 de junho, em que se comemorou o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, este ano ainda marcadas pelos efeitos de isolamento social decorrentes da pandemia de coronavírus, assoma na memória coletiva nacional a figura cimeira do fotógrafo Gérald Bloncourt (1926-2018), um dos grandes nomes da fotografia humanista, cujas amplamente conhecidas imagens que imortalizam a história da emigração portuguesa para França, representam um contributo fundamental para uma melhor compreensão e representação do nosso passado recente.

Colaborador de jornais de referência no campo social e sindical, o antigo fotojornalista franco-haitiano que esteve radicado em Paris mais de meio século, teve o condão de retratar a chegada das primeiras levas massivas de emigrantes portugueses a França nos anos 60. A lente humanista do fotógrafo com dotes poéticos captou com particular singularidade as duras condições de vida dos nossos compatriotas nos bairros de lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, como os de Saint-Denis ou Champigny, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, construídos junto das obras de construção civil.

Igualmente relevantes são as imagens que Bloncourt captou durante a sua primeira viagem a Portugal nos anos 60, onde retratou o quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves. Assim como as da viagem a “salto” que fez com emigrantes além Pirenéus, e as dos primeiros dias de liberdade em Portugal, como as das comemorações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, acontecimento que permanece ainda hoje como a maior manifestação popular da história portuguesa.

O trabalho fotográfico de Bloncourt sobre a emigração e a génese da democracia portuguesa constitui um valioso repositório do último meio século nacional, que resgata das penumbras do esquecimento os protagonistas anónimos da história nacional que lutaram aquém e além-fronteiras pelo direito a uma vida melhor e à liberdade.

O trabalho e percurso de vida do fotógrafo francês de origem haitiana, que durante mais de vinte anos escreveu com luz a vida dos portugueses em França e Portugal, foram em 2016 distinguidos pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa. No âmbito das Comemorações do 10 de junho em Paris, cujas comemorações oficiais nesse ano aconteceram pela primeira vez numa cidade fora do país, modelo de celebração junto das comunidades portuguesas que há dois anos não tem sido possível concretizar por parte do mais alto magistrado da Nação devido à pandemia globalcriada pela covid-19, o aclamado fotógrafo foi condecorado na cidade simbólica de Champigny, com a ordem de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

Como realçou o chefe de Estado português, aquando do perecimento de Gérald Bloncourt, “há um dever de memória” em evocar o trabalho com a emigração portuguesa do fotojornalista franco-haitiano, porquanto o mesmo “foi uma das testemunhas do duro quotidiano dos compatriotas que viveram os primeiros anos da maior vaga de emigração para França, sendo simultaneamente amigo e companheiro de tantos portugueses que ali construíram o seu futuro”.

 

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