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Filme português reflete sobre o drama dos refugiados

A realizadora Margarida Gil estreia este mês, nos cinemas, o filme “Mar”, uma ficção em movimento, confinada num veleiro, e que pergunta “porque é que a Europa se porta tão mal com os refugiados”.

“Mar”, integrada na competição do festival IndieLisboa, é a sexta longa-metragem de ficção de Margarida Gil, 69 anos de vida, mais de 40 de carreira e possivelmente a realizadora há mais tempo em atividade no cinema português, no qual entrou nos anos 1970, pela mão de João César Monteiro.

Produzido por Alexandre Oliveira, “Mar” é protagonizado por Maria de Medeiros, enquanto uma mulher que parte num veleiro pelo Mediterrâneo, numa crise de meia idade e em busca do filho, deparando-se na viagem com a situação dramática de um refugiado.

O filme, rodado quase na íntegra dentro de um barco, conta ainda com a interpretação de Nuno Lopes, Catarina Wallenstein, Augusto Amado e do artista plástico Pedro Cabrita Reis, no papel do dono do veleiro, traficante de arte em alto mar.

“De todos os meus filmes, [este] é muito desligado de mim, mas mais ligado ao pensamento. Tem mais a ver com o pensamento do que com os conflitos [interiores]. (…) A vida e o mundo estão tão em convulsão, que é impossível que um cineasta, com a mania do dever que eu tenho, não refletir”, afirmou Margarida Gil à agência Lusa.

Tendo o veleiro como símbolo de instabilidade, Margarida Gil serviu-se do cinema para explicar esse dever de olhar para o que a rodeia. Na altura em que estruturou o filme, com argumento coescrito com Rita Benis, o assunto premente na Europa era – e ainda é – a relação com os migrantes que procuram refúgio no continente.

“Para mim, o mais importante era ‘porque é que a Europa se porta tão mal com os refugiados?'”, perguntou, canalizando essa inquietação para a personagem de Maria de Medeiros, uma mulher que está a envelhecer, que acredita na Europa e é confrontada com uma realidade tempestiva do drama dos refugiados.

Nessa consciência cívica mais latente em “Mar”, que faz recordar a militância do começo de carreira, logo após a Revolução de Abril de 1974, Margarida Gil acrescenta: “Um artista não pode deixar de ver quando olha. Foi isso que eu tentei. Ver quando olho, um comportamento diferente face a uma coisa horrível [o desespero dos migrantes]”.

Nascida na Covilhã em 1950, Margarida Gil rumou a Lisboa no final da adolescência, com a ideia inicial de seguir Belas Artes.

Acabou por estudar Filologia Germânica e a aproximação ao cinema deu-se na Cinemateca, onde conheceu João César Monteiro, com quem trabalhou, viveu e teve um filho.

Na década de 1970 foi assistente de realização deste cineasta, trabalhou em realização na RTP e só assinaria a primeira ‘longa’ de ficção na década seguinte, quando estreou “Relação fiel e verdadeira” (1987).

Até “Mar”, no capítulo das longas-metragens de ficção, Margarida Gil fez ainda “Rosa Negra” (1992), “O Anjo da Guarda” (1998), “Adriana” (2005) e “Paixão” (2012).

A par da realizadora sueca – naturalizada portuguesa – Solveig Nordlund, de 75 anos, Margarida Gil é das escassas mulheres do cinema português em atividade desde a década de 1970, anterior à geração da qual fazem parte, por exemplo, Teresa Villaverde, Margarida Cardoso, Catarina Alves Costa e Susana Sousa Dias.

Terminada a ligação com a Universidade Nova de Lisboa, onde deu aulas e fez investigação, Margarida Gil diz que agora aguenta a “tensão de esperar por um filme” através da escrita, da pintura e da cerâmica.

“Tenho muita lata, sou extremamente persistente, não tenho respeito nenhum por nada, nem pelo cinema beato, na moda, a bocejar e profundamente parolo. (…) Gosto de escrever, de pintar, de política e de ser combativa”, resumiu.

“Mar” será exibido no IndieLisboa, e chegará às salas de cinema de Lisboa, Porto, Almada, Coimbra e Viseu, no dia 16.

Confira o trailer:

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