Desenhos inéditos de Gonçalo Duarte expostos em Paris

A Abraham & Wolff, em Paris, apresenta, até 19 de abril, um conjunto inédito de desenhos da autoria do pintor português Gonçalo Duarte, abrangendo um período que vai de 1961 a 1981. A exposição intitulada “Hyéroglyphes modernes” permite compreender a evolução do artista, da abstração para estas composições oníricas muito pessoais.
Gonçalo Duarte (1935 – 1986) pertence àquela geração de artistas portugueses cujo destino foi marcado pela ditadura e pelo exílio. Nascido em Lisboa em 1935, viria a falecer, em Paris, em 1986. Frequentou a Escola de Belas Artes de Lisboa, e a Escola de Belas Artes de Munique. Foi bolseiro da Fundação Gulbekian em Paris. Nesta cidade pertenceu, nos anos 60 – 70, ao grupo “KWY” de que também faziam parte René Bertholo, Lourdes Castro, Christo, Voss, Escada e João Vieira.

Iniciado por Lourdes Castro e René Bertholo, o KWY reuniu jovens artistas em exílio: os portugueses António Costa Pinheiro, José Escada, João Vieira e Gonçalo Duarte, o búlgaro Christo e o alemão Jan Voss. Juntos, criam a revista com o mesmo nome, objeto de arte composto por serigrafias originais, fotomontagens, colagens, postais, poemas e textos teóricos. As contribuições de Gonçalo Duarte apresentam-se sob a forma de serigrafias que testemunham o seu interesse pela abstração informal e lírica.
Foi a partir de 1963 que o artista iniciou uma importante série de telas e desenhos figurativos de inspiração surrealista. Neles, abrange um repertório de motivos obsessivos composto por cobras, ovos, chaminés fumegantes, corpos em mutação e figuras femininas, cubos e pirâmides, naves espaciais ou marítimas. Todos esses elementos colidem para formar enigmas cuja solução se esconde, tal como num sonho. O próprio artista o escreve: “Pintar ou desenhar é concretizar, passo a passo, um devaneio”.
A galeria de arte Abraham & Wolff expressou o seu agradecimento a Garance Duarte por abrir os arquivos do seu pai, e a Sophie Pán pelo seu apoio.