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Descobrir no Luxemburgo a guerra colonial portuguesa

Irene Flunser Pimentel, estudiosa da ditadura de Salazar, apresentou uma conferência sobre “os treze anos de guerra colonial portuguesa” no MNHA, o museu de arte contemporânea na capital do Luxemburgo, enquadrada na exposição “O passado colonial do Luxemburgo”.

O comissário da exposição, Régis Moes, considerou a conferência “muito importante para residentes portugueses e cabo-verdianos e outros lusodescendentes, por abordar um período muito doloroso da história destes países, mas também para os luxemburgueses, por enquadrar a situação colonial europeia e luxemburguesa pós 1960”.

Polfer referindo também que “existem muitos trabalhos sobre as relações entre Portugal e o Luxemburgo, pelo interesse dos lusodescendentes que estudam no país, e pela importante comunidade cabo-verdiana que aqui se estabeleceu, mas muito mais poderá ser feito pelos historiadores e museus sobre a história da emigração no Luxemburgo.”

Irene Pimentel, referiu ao BOM DIA, que os historiadores e autoridades dos países que emergiram das colónias, “estão ainda de costas voltadas para o estudo da guerra colonial”, e considerou “urgente recolher os testemunhos verbais das memórias dos últimos participantes ainda vivos”, para permitir melhorar a compreensão desta guerra, quando muitos arquivos militares, principalmente na França e Bélgica, ainda não estão acessíveis. Considera positivo que os mais jovens nos países africanos já “mostram uma maior abertura a abordar este tema com uma maior neutralidade, comentou.

A historiadora considera que seria positivo uma rede museológica nas capitais dos países envolvidos, de forma a ”recolher e aprofundar o conhecimento deste período”.

Irene Pimentel assume que foi “ativa politicamente contra a guerra”, e que as “memórias pessoais, desde os anos 60”.

Essas memórias influenciam o seu discurso de historiadora, o que surpreendeu alguns dos participantes, Pimentel faz constantes referências a massacres, a campos de concentração, uso de “napalm”, e aviões contra a população, abusos e uso de trabalho escravo, aprisionamento de populações, uso de tortura contra a população indígena, pelo regime de Salazar e militares portugueses, considerando que “são incomparáveis e inadmissíveis as comparações, entre as atrocidades praticadas pelos portugueses, e as das forcas rebeldes”, não apresentou porém nenhuma referência a atos de guerra ou terrorismo perpetuados pela oposição aos portugueses, justificando-se que “não os podemos colocar ao mesmo nível”.

A historiadora, reconhece que ”os portugueses também foram vítimas destes conflitos, principalmente os mais de 600 mil refugiados, que foram obrigados a sair destes territórios e das suas casas por causa da guerra”, e que “não foram bem acolhidos em Portugal”. Irene Pimentel referiu ainda que, na sua opinião, “não e possível curar estas feridas”, mas que “o passar do tempo ajuda a ultrapassar estas memárias negativas e que falar e refletir sobre o que aconteceu, nos permite conhecer e aceitar o que se passou”, apresentando o atual conflito na Ucrânia, como “exemplo atual dos mesmos discursos e justificações, que leva ao sofrimento da guerra.”

A conferência, em francês, contou com o apoio do Centro Cultural Camões, teve sala cheia, com a presença de uma audiência multifacetada de luxemburgueses, americanos, franceses, belgas, e de elementos da comunidade lusófona no grão-ducado.

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