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De onde provem a riqueza do Luxemburgo?

A maioria das pessoas, mesmo os que vivem e trabalham neste país, preferem não responder a esta pergunta. Outras não sabem nem querem saber. Os que sabem ou julgam saber, querem apenas usufruir dela, da tal riqueza, como se fosse algo inerente ao país. A maioria dos nacionais e residentes do Luxemburgo prefere, assim, tapar o sol com a peneira.

O PIB anual do Luxemburgo (toda a riqueza criada pelo país num ano) é artificial. E como artifício que é, acontece como um passe de mágica. Todos sabem quem é o ilusionista, mas este não conta como o faz. Como recursos naturais, o país pouco mais tem do que algumas vacas, ameixas, maçãs e pêras. Já nem batatas tem que chegue. Ah, e também tem javalis…

O Luxemburgo era uma das capitais mundiais da rosa. A rosa do Luxemburgo era famosa internacionalmente, mas desbaratou-se o património floral nos anos da febre siderúrgica, no virar do século XIX para o XX. As colinas de Steinsel ficaram orfãs. A verdade é que o país não tem riquezas nem recursos naturais. Já não tem! Nenhuns ou quase nenhuns.

A riqueza é assim importada através de dinheiro e fundos. De origem duvidosa? Ninguém quer saber. A começar pelo Estado, que faz vista grossa de onde vêm os biliões que insuflam, engordam, incham artificialmente o PIB. E os cidadãos fazem igual. Não é preciso ser bruxo para perceber que se o país não tem recursos naturais nenhuns, a riqueza só pode vir do exterior! E se é verdade que 40% do PIB anual vem do sector financeiro, esse sector só emprega 11% da mão de obra!!!

Um dos recursos naturais do país são … as suas fronteiras! Tem três, o que para um país deste tamanhito é obra. Mas é graças a essas fronteiras que, segundo a mais recente estatística, do terceiro trimestre de 2018, o Luxemburgo tem 180 mil fronteiriços. Embora a realidade aponte já para mais de 200 mil. Apenas 26,62% (1/4) dos trabalhadores do país são nacionais, e a maioria não trabalha nos sectores produtivos, mas no sector público. E são 73,38% (3/4 da mão-de-obra, ou seja, 310 mil pessoas) os trabalhadores estrangeiros. Esses, os que produzem, e criam verdadeiramente a riqueza do país, não têm nada a dizer, nem a opinar, mesmo que residam no país, pois não têm o direito de voto nas Legislativas, o que é um escândalo!
Se eu fosse luxemburguês teria muita vergonha na cara. Esperem… mas eu sou luxemburguês, e sim, tenho uma imensa vergonha deste país não dar o direito de voto às pessoas que o constroem e têm construído no último meio século, e merecem participar não só na construção, no enriquecimento económico, cultural e social, mas também nas decisões tomadas a nível nacional.

Finalmente, a verdadeira riqueza do Luxemburgo é precisamente aquilo que muitos (alguns! demasiados!) luxemburgueses querem esquecer: o seu potencial humano, o seu multiculturalismo, a variedade de nacionalidades e povos. E é pena. Porque o Luxemburgo é “o” verdadeiro melting pot, um laboratório social e sociológico único, que poderia dar lições ao mundo. Não lições de economia e finanças. Mas de tolerância, integração, coesão e harmonia social.

Nestes tempos de recuo civilizacional, periclitantes, escorregadios em direcção aos desvios simplistas das direitas e das extremas-direitas, era importante sermos esse farol no meio da neblina que se instala! Mas, para já, não somos.

JLC22122018

Foto: Pixabay/free

Nota: Considerações redigidas a partir de um apontamento brilhante de Mil Lorang na rede social Facebook, com base num editorial de Pol Schock, no Tageblatt de 21/12/2018, que denuncia que a origem da riqueza do Luxemburgo é um verdadeiro tabu no país.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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