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Crónicas de Lisboa: os cofres estão cheios

O Zé da Silva, influenciado pela euforia consumista de há poucos anos atrás, e também pelas palavras do então PM (apesar de ser de formação de engenharia) considerava-se “um grande mestre de economia”, que afirmou de que as dívidas não são para pagar, mas sim para renegociar, mesmo que vão crescendo, até por efeito da inclusão das taxas de juro não pagas, por incapacidade em reduzir despesas ou aumentar os rendimentos, gastou mais do que podia com a sua família, pelo que teve que contrair alguns empréstimos, mesmo quando os credores lhe exigiam condições penosas de prazos de pagamento e elevadas taxas de juro, porque estava com a “corda ao pescoço”.

Quando se apercebeu do “aperto” em que estava, pelo elevado endividamento e sujeito a ser penhorado nalguns dos seus bens patrimoniais, convocou a família para lhes comunicar que teriam que enveredar por um novo modo de vida, isto é, “apertar o cinto” ou, melhor dizendo, implementar um plano de austeridade, de modo a poderem solver os compromissos assumidos no tempo das “vacas gordas”. Mas os credores, que mesmo que tenham abusado da publicidade apelativa ao consumo e ao endividamento, “encostaram a família Silva à parede” e impuseram-lhe um plano rigoroso de amortização dos empréstimos e, caso a família Silva falhasse alguma das mensalidades, implicaria o vencimento imediato das restantes amortizações vincendas, levando não só a família à bancarrota mas também à penhora dos bens.

Com a crise, o Zé Silva foi tomando juízo e aprendeu que, afinal, o dinheiro que nos emprestam tem dono e, como tal, terá que ser pago. Foi também aprendendo algumas noções de gestão financeira e passou a estar atento aos mercados de capitais, variação das taxas de juro, liquidez, etc, coisas de que todos deveriam saber para não cometerem os erros que ele próprio cometeu, vivendo acima das suas reais posses, ainda por cima gastando dinheiro que pedia emprestado, em bens ou serviços não indispensáveis. Não fica mal a ninguém querer ser rico, aliás todos o deveriam querer, e sem vergonha, mas lutando por isso com bases sólidas, investindo na sua formação e atitudes pessoais e profissionais, apesar dos riscos da vida, às vezes com grandes reveses que se reflectem na nossa conta bancária. E a melhor forma é aprender sempre e estar atento ao universo que nos rodeia, pois só assim poderemos vencer.

O Zé Silva aprendeu mais nestes últimos anos do que nas mais de quatro dezenas de vida que já leva. Até aprendeu a fazer uma “jogada de mestre” em assunto financeiros, quando se apercebeu que o preço do dinheiro nos mercados (taxas de juro) estavam bem mais baixas do que aquelas a que estava “amarrado”, contratualmente nos empréstimos que terá que pagar. Assim, conseguiu que lhe emprestassem dinheiro, antecipadamente, para poder liquidar, definitivamente, os “maus empréstimos” substituindo-os por este. Assim, num repente, os seus “cofres ficaram cheios” (a sua conta bancária) e logo alguns dos familiares lhe exigiam que os libertasse da austeridade em que viviam.

– Pai, então tens tanto dinheiro na conta bancária e não podemos “alargar o cinto? Estás a ser um ditador ou és insensível aos sacrifícios que temos feito? Tem pena de nós e vamos gastar mais, enquanto temos esses dinheiro no cofre”. O Zé perdeu as estribeiras e lá puxou não só da sua autoridade de patriarca da família e agora de também “gestor financeiro”, para dizer aos familiares que aquele dinheiro não provinha de qualquer aumento de rendimento familiar nem do euro milhões, mas sim duma mera operação de tesouraria e que se destinaria a pagar os empréstimos cujo vencimento ocorreriam nos próximos tempos. Foi difícil entenderem este tipo de operação que o pai, inteligente e preventivamente, tinha efectuado junto do novo credor.

O Zé Silva também não soube utilizar os termos e as justificações adequadas, ainda mais para leigos nas matérias financeiras, pelo que a família só foi vencida pelos “argumentos” do poder do chefe da família. Afinal, parece que a nossa Ministra das Finanças Maria Luis Albuquerque aprendeu com o Zé Silva e aproveitando-se das boas condições dos mercados de capitais, contraiu, antecipadamente, novos empréstimos para serem utilizados nos pagamentos das dividas pública do Estado a vencer nos próximos tempos, ganhando nas condições, isto é, garantido os fundos e poupando nos juros bastante mais baixos do que os anteriores. Encheu os cofres de “liquidez” (dinheiro) mas que é apenas isso mesmo uma operação de tesouraria e não provem de aumento de receitas do Estado português e, como tal, não contar para as contas operacionais do Estado (OE).

Se a jogada foi de mestre, já as palavras que a ministra utilizou foi duma grande ingenuidade política , ao dizer que “o país tem os cofres cheios”. Assim, deu oportunidade aos opositores ao governo de enveredarem pela demagogia, a campanha eleitoral há muito que começou, dizendo que este Governo é duma grande insensibilidade, porque tem os cofres cheios e não os distribui pelos portugueses carenciados!

Ao líder do PS, António Costa, candidato a futuro PM, fica muito mal ter dito isto, porque, sabe que aquele dinheiro tem um fim específico, pelo que com a sua “acusação” ao Governo chamou ignorantes aos portugueses que entendem alguma coisa, mesmo que mínima como o Zé Silva, das questões financeiras. Mas mais grave, lançou mais uma “acha para a fogueira” no povo que é , sistematicamente , “envenenado” e enganado por todos aqueles que o deveriam informar, ainda mais com grandes responsabilidades governativas, directas ou indirectas, pelo estado a que chegou o nosso país.

Por isso, não fiquemos admirados pelo “divórcio” entre o povo e os políticos que nos (des) governam e nos tratam como “burros”. “Porca da política”, esta que temos.

 

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