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Conhece a aldeia mais luxemburguesa de Portugal?

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Esta aldeia tem grande parte da população emigrada no Grão-Ducado. Durante o ano, apenas 300 pessoas lá moram, mas, assim que chega o verão, o número triplica. Conheça esta aldeia do concelho de Murça, em Vila Real.

A aldeia do Fiolhoso tem grande parte da população no Luxemburgo. Assim que se chega, em vez de Super Bock, os chapéus de sol dizem “Diekirch”, uma típica cerveja de cá. A geógrafa Aline Schiltz, que diz o Contacto que vive entre os dois países, deixa uma frase marcante da diáspora portuguesa. “O emigrante português não parte para levar uma vida melhor no estrangeiro, mas para encontrar os meios de construir uma vida melhor ’em casa'”, refere a geógrafa.

A reportagem fala de Adélia Macedo, e do marido Fernando, que esteve no Luxemburgo desde os seus 11 anos. Não se havia integrado muito bem e voltou para Portugal uns meses depois. Anos depois, conta ao Contacto, teve de dar uma segunda oportunidade ao Grão-Ducado, por saudades da família.

Esteve na escola até à idade de poder trabalhar e trabalhou numa lavandaria, numa padaria e num café. Casou-se com 18 anos no Fiolhoso. O seu marido também era emigrante, mas em França. Depois do casamento, os dois voltaram para o centro da Europa para tentar a sorte em França. Quando Adélia percebeu que era difícil, desafiou o marido a irem para o Luxemburgo, onde “teriam mais perspetivas de futuro”. E foram.

Ao início, Fernando teve alguma dificuldade em regularizar a sua residência no Grão-Ducado, o que o impedia de arranjar trabalho. Contudo, uma pessoa inesperada apareceu para ajudar Fernando: o tio do ex-primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker, Édouard. Foi burgomestre de Ettelbruck durante mais de 20 anos.

Adélia encontra trabalho pouco tempo depois de regressar ao Luxemburgo, tendo ficado espantada por ter arranjado uma patroa compreensiva quanto à gravidez que veio. “Antigamente, não aceitavam uma mulher grávida no trabalho”, reconhece. Fernando já trabalhava numa marca americana de pneus.

Aline Schiltz, que realizou uma tese acerca d'”A emigração portuguesa no Grão-Ducado do Luxemburgo. Análise do impacto local na aldeia de Fiolhoso”, em 2003, onde refere algo já muito sabido: “Os portugueses encontravam trabalho na construção e as mulheres, sobretudo, na limpeza e na restauração, mas muitos passaram a ocupar os postos de trabalho recém-criados”.

Adélia acabou por se fixar num hospital onde trabalhou durante quase 30 anos. Depois da reforma e de 45 anos no Luxemburgo, voltou para a aldeia transmontana. “O que tenho, o que os meus filhos têm, agradeço ao Luxemburgo”, não esconde a ex-emigrante. Mantém relações com o país, até porque os filhos moram cá e os netos também. Afirma que os filhos, quando vêm a Portugal, ficam menos de uma semana, que os aborrece.

José Manuel Marcolino, também ex-emigrante do Fiolhoso, não esconde que apenas foi para o Luxemburgo para ganhar dinheiro e regressar. Sente uma grande liberdade quando está na sua terra. “Vamos para onde queremos; estamos aqui, queremos ir dar uma volta e vamos, [isso acontece] também por ser uma aldeia”, revela ao Contacto.

Um mês foi suficiente para regressar ao Fiolhoso. Não gostou. Tentou novamente depois de receber uma carta com um contrato de trabalho no Luxemburgo, decidiu voltar a tentar e lá ficou por dez anos, com a mulher e a filha. Apesar de muitos terem dificuldades em integrar-se, não foi o caso de José. Aos fins-de-semana, até se juntava com a comunidade fiolhosense no Luxemburgo, já bem assente. Jogou futebol num clube onde maioritariamente estavam luxemburgueses, e nem aí sentiu discriminação.

Mesmo tendo a ideia de ir e vir rapidamente, em 1996 comprou casa cá. Acabou por vendê-la seis anos depois e regressar a Portugal. Recorda que o sentimento que tinha quando saía de Portugal era de uma saudade que não se ia embora, como moscas quando as tentamos enxotar.

Contudo, admite-se que hoje em dia, as visitas e viagens a Portugal são muito mais fáceis. “No meu tempo, a gente só vinha cá uma vez por ano; hoje as pessoas estão cá quase de mês a mês. É impressionante!”, reflete o ex-presidente da Junta de Fiolhoso, José Manuel Marcolino, que exerceu o cargo entre 2009 e 2021.

O seu primo, com quem partilha o nome e o apelido, sucedeu-lhe na presidência da junta, e nunca chegou a emigrar. Foi convidado pelo pai para ir para a Suíça, mas recusou, acabando por ficar na aldeia com a família e, futuramente, com o negócio. Quase ninguém fica, mas quem o faz deve-se a ter um negócio familiar para se resguardar. Uma das filhas de José Teixeira Marcolino emigrou há sete anos, sempre com a perspetiva de regressar rapidamente. Hoje, tem 29 anos, comprou uma casa e tem uma filha na escola, que sempre foi uma ideia que havia recusado.

Fiolhoso ficou a ganhar com a emigração e com o regresso eventual de quem tinha ido para fora. A aldeia transmontana começou a ganhar o aspeto que tem hoje entre 1958 e 1978, que coincidiu com a substituição das estradas de terra pelo asfalto. A praça central começou a ser edificada para habitação. A partir dos anos 80, a emigração foi o grande motor de transformação na aldeia. “Era uma loucura; o meu pai não conseguia ter materiais para toda a gente, porque havia muita construção”, relembra José ao Contacto.

As tradicionais casas de granito foram desaparecendo, substituindo-se pelas casas modernas que os emigrantes haviam construído. Esta foi uma vaga que apenas terminou no fim dos anos 2000. A renovação da igreja e a construção do monumento em homenagem à padroeira da terra foram fortemente financiados pela diáspora de Fiolhoso. Também um lar de idosos e o pavilhão de jogos.

Lar este que foi um grande incentivo para a aldeia e uma grande demonstração de união entre Portugal e o Luxemburgo. A inauguração foi em 1998 e contou com a presença dos então primeiros-ministros Jean-Claude Juncker e António Guterres. Em breve vai nascer o Centro Social de Fiolhoso, um equipamento sociocultural investido por locais e pela diáspora.

Leia a reportagem completa em Contacto.

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