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Confinados na Páscoa

Felgueiras, fruto da localização geográfica ambígua, sendo Douro Litoral – logo distrito do Porto, confina com Guimarães, o Berço da Nação, distrito de Braga – o Minho, sempre bucólico e verde cheio de encantos idílicos e eloquente inspiração, pela Páscoa buscamos imenso da cidade dos arcebispos.

Também estamos pegadinhos a Amarante que logo confronta com o distrito de Vila Real, e inseridos na Sub-Região do Vale do Sousa que confina com Castelo de Paiva. Adstritos também ao Tâmega e Sousa, faz-nos ter relações institucionais – sobretudo no âmbito autárquico, com Cinfães e Resende, o profundo distrito de Viseu.

Felgueiras, dizia, por mor disto tudo encerra uma diversidade de costumes, mas estes mais arreigados ao Minho – esta diversidade, este clima-micro que nos há-de mercer oportunamente reflexões, até porque tem a ver com a Regionalização, um dossier sempre aberto, e complicado, sobretudo pela identidade que não queremos perder. Mas como assunto longo não cabe aqui e então Felgueiras – per si um território especial (…) no que toca às tradições da Páscoa, ombreia muito com o verde-Minho, tradição secular andar o compasso na rua que consiste num crucifixo – a que se chama cruz!

Por sua vez o compasso entrava em casa de quem tinha flores à entrada a atapetar – agora poderá entrar mas já não o tem – para distinguir o compasso com o tal tapete simultaneamente para indicar que ali tinha uma família para receber a cruz – uma família, mas por vezes mais que o agregado, porque fazem encontrar-se familiares e amigos aonde o compasso já passou ou ainda vai passar…

Este procedimento, já nem tanto pela prática religiosa, pela modernização dos dias e dos tempos – que se concentra em apartamentos, e já se não vê, a tradicional casa da região Entre-Douro e Minho com o quintalzinho ao lado ou detrás – procedimento, dizia, que se vem diluíndo.

Um cortejo de quatro ou cinco elementos, um dos quais transporta agora a tal cruz – que já não é o padre quem a leva nem incorpora o cortejo – benzem a casa com água benta e outro elemento busca na mesa da sala o envelope com a oblata.

Ora este ano – isto está como nunca esteve – todos nós também já vimos como está por todo o mundo – não há o tradicional compasso, mais ainda que pelo confinamento de cada um de nós a casa – no laudémio mas também pelo contacto como ósculo na cruz que em qualquer altura não é higiénico, agora, neste tempo inaudito, seria uma catástrofe. Seria. Mas apetece-me escrever que era. Era uma catástrofe.

Ora como o dia de Páscoa acontece ao domingo – dia do Senhor -, enraizou-se o hábito de se não trabalhar na segunda feira, também um pouco porque anos antes – quando o compasso era presidido pelo padre, para visitar toda a freguesia – coisa agora muito difícil por causa das vocações e concentarções urbanas, troca-se esse dia pelo de sexta feira – que essa, sim, é santa.

Ante este cenário contorna-se esta tradição secular, que também o hábito se torna bastante triste – bastante desagradável.

Contudo resta-nos desejar que para o ano possamos ter o compasso – o período pascal, com todas suas celebrações prévias, a Semana Santa, com tudo o que isto representa.

(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico)

 

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