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Colombina e Arlequim (ou O Baile de Máscaras)

Era Natal, ele não esperava presentes,
apenas o seu
Ela também, tinha adiado a felicidade
e trocado a esperança pela vida
mas vivia por perfusão
injeçôes artificiais de prazer
inconstante e imediato
Ele perdia-se em labirintos de nada
vadiagens do corpo que o coração ignorava.

E foi nessas vastas margens da improbabilidade
que se cruzaram um dia, como outro dia qualquer
numa praça, numa esquina, numa rua
nenhum deles se lembrava ao certo
porque nesse dia tudo
passou a ser escrito de outra maneira.

Vamos supor que foi num baile de máscaras
eles vestidos de pierrots, arlequins,
don juans, casanovas, fatos-dominó
elas trajadas de princesas, colombinas
fadas-madrinhas, damas, rainhas.

Ele reparou nela
assim que entrou na festa
ela, do outro lado do salão,
rodeada de cavalheiros sem cavalo
passou a olhar só para ele
a partir daquele momento.

Ela queria tanto ir ter com ele
mas queria ainda mais
que ele viesse ter com ela
Ele também queria
pedir-lhe para dançar
mas atravessar aquela floresta densa
de pretendentes era intimidante

Um momento, o olhar dela estendeu-lhe a mão
a boca desenhou um sorriso quase impercetível
como um respirar que não ousasse
e ele não soube, e não quis, resistir
naquela noite a vontade de vencer
foi maior do que a ânsia de fugir
do que o medo de falhar
porque o segredo da vida
não é escapar-lhe
nem voltar-lhe as costas
nem tão pouco lutar com ela
mas simplesmente
convidá-la para dançar.

 

E dançaram, dançaram juntos a noite toda
quando ele pegou na mão dela
ela soube que sim
ele só sentiu desejo de ficar ali
para o resto da vida.
– Não me vais dizer quem és, pois não?
– Estás tão enganado!
Ela foi a primeira a retirar a máscara
ele retirou logo a seguir
o baile parou estupefacto
quem eram aqueles loucos nus
ali no meio em plena luz
houve um ai, uma loira desmaiou
um velho cambaleou
mas quando a turba de vozes se alevantou
já eles corriam escadaria abaixo
mão na mão e à gargalhada.

Quando chegaram ao último degrau
ela disse: chega-te aqui!
Ele obedeceu.
– Vamos experimentar o beijo, queres?
– Quero!
Naquele beijo inocente e profano
havia tanta fé
a fé de dois corações
que batiam sem querer
já não batiam há tanto tempo
que quase se assustaram
Mas quando os lábios se tocaram
e as línguas dançaram
estava lá tudo o que já sabiam
um sobre o outro
e tudo o que precisavam saber.

 

JLC20122019

 

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