De que está à procura ?

Colunistas

Caso W52-FCP tem de ser levado às últimas consequências

© Lusa

Escrevi nestas mesmas “páginas” do BOM DIA, há um par de semanas atrás, um pequeno artigo de opinião sobre o facto de a equipa de ciclismo W52-FCP ter sido apanhada numa teia de doping de dimensões ainda desconhecidas na sua totalidade, mas que levou a que o Diretor Desportivo fosse preso durante uma prova que a equipa estava a disputar nesse mesmo momento.

A minha tese é que o doping puro e duro existe no ciclismo de forma escandalosa (tal como noutras modalidades, com maior ou menor intensidade, como os atletas russos nos mostraram ao longo de décadas ), que TODOS os que gravitam à volta deste desporto (instituições oficiais, legisladores, reguladores, sucessivos secretários de estado do desporto, organizadores de provas, patrocinadores, ciclistas, jornalistas desportivos, organismos de controle, fãs, etc., etc.) sabem do tema, mas que há uma espécie de paz podre e um manto de silêncio semi-oficial à volta do tema.

Deixa-se correr a coisa ano após ano a ver se ninguém é suficientemente idiota para ser apanhado, vai-se tolerando assistir às provas com a certeza total de que fulano ou sicrano, ou a equipa xyz na sua totalidade está  “mamada” (gíria do circuito da bicicleta para doping), mas as técnicas para falsificar a verdade desportiva são de tal ordem refinadas hoje em dia, que os malditos prevaricadores andam sempre um passo à frente das ADOP (“Autoridade” Antidopagem de Portugal) da vida.

Aquilo que era matematicamente possível, concretizou-se, e o meu FCP do coração sagrou-se campeão nacional na época 2021 / 2022, o seu trigésimo título de campeão nacional. Foi uma época duríssima, com um digno seguidor (Sporting) que nos mordeu os calcanhares até ao último minuto, e uma terceira insígnia que passou toda a época a tratar de justificar o miserável futebol que praticou no campeonato (fez um papel digno na Champions), e as prestações desastrosas ao longo da época, com o favorecimento dos árbitros ao Porto, os mergulhos do Taremi e o Diabo a 4. É a velha tática de todos aqueles que enfrentam problemas e debilidades dentro de casa. Procurar um inimigo externo, e fazer gritaria para desviar as atenções das debilidades internas. Pareciam os generais argentinos quando iniciaram a guerra das Malvinas. E não falo doutra guerra, mais recente, porque estou a sofrer solidariamente com o povo que está a suportar as barbaridades assassinas a que estão ser submetidos.

O Porto é uma instituição que é infinitamente superior aos que nele gravitam hoje. Para o ano celebrará 130 anos de existência. Várias gerações passaram por lá, mas nenhuma outra época marcou tanto a glória do clube no futebol como estes últimos 40 anos, apesar de tudo aquilo que digam. O Porto, para ganhar, seja em que modalidade for, não precisa de “nitro” (óxido nitroso), como os motores de carro, para obter resultados de velocidade e performance que de outra forma não conseguiria.

Surpreendeu-me e entristeceu-me que a instituição FCP não se tenha demarcado imediatamente da situação, fazendo um cuidadoso comunicado no estilo daquele que a Federação Portuguesa de Ciclismo fez, sem acusações, apenas marcando uma posição global contra a lacra do doping. Dizem-me que há interesses, compadrios e amizades que impedem que o façam. Vamos portanto esperar serenamente para ver o que sai daqui. Espero que seja a verdade, e que as instâncias responsáveis saibam tirar as devidas ilações, de uma vez por todas.

O meu primeiro artigo sobre o tema motivou largas dezenas de mensagens de apoio. Como eu dizia lá atrás, tudo gente que sabe o que está a acontecer, condena o que está a acontecer, mas sabe que nada pode fazer para alterar o status quo sem que se tomem medidas duras e impopulares. É preciso uma conjugação de vontades.

Houve quem me escrevesse “nunca entendi como foi possível o FCP associar o seu nome a uma equipa que escolheu como Diretor Técnico um homem que foi apanhado com doping depois de ter ganho a Volta a Portugal, e terem-no deixado fazer aquilo que todos sabiam que estava a fazer ao longo de tantos anos”.

Outro escreveu que “afastei-me deste desporto quando insisti na introdução do passaporte biológico obrigatório para TODAS as equipas, não só no “ProTour” mas também nas “Continentais”, e a esmagadora maioria dos Directores Desportivos não quis” (porque será, pergunto eu?).

Outro ainda, “infelizmente é uma situação que já prevíamos há muito. E no entanto continuam cá na modalidade mais pessoas com a mesma postura do Nuno Ribeiro. Não me revejo neste ciclismo, não só no que ao doping respeita, mas também a comportamentos de falta de ética para com os demais.”

Outro ainda, já para encerrar as citações (algumas impublicáveis) “excelente artigo, mas teríamos que acabar com quase todas as equipas para limpar esta maldição.”

Acho que está claríssimo que a indignação no meio do ciclismo é real, crescente, e exige dos responsáveis uma posição dura, clara, transparente, inquestionável e que faça escola daqui por diante.

Não sou um especialista na matéria, mas acredito que a introdução de passaporte biológico OBRIGATÓRIO para todos aqueles que queiram correr em provas oficiais (Continentais e ProTour), dotar a ADOP de meios que lhe permitam ter uma presença maciça e visível em todas as provas relevantes, fazer controles regulares, e ser IMPLACÁVEIS  nas penas aplicáveis aos prevaricadores (banir de vez da participação no circuito de provas profissionais todos aqueles – e as respetivas equipas- que sejam apanhados com a mão na botija), seria um bom começo.

A bem da verdade desportiva. Viva o FCP, justíssimo campeão nacional na época 2021 / 2022! Abaixo o doping!

José António de Sousa

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA