Bombeiros de Porto de Mós pedem ajuda aos emigrantes para reparar velha relíquia
Gostava de contribuir com um donativo para uma viatura de bombeiros mas a verba de que dispõe nem para um par de luvas das mais baratas ou para uma dúzia de metros de mangueira (também das mais baratas) chega, quanto mais para apadrinhar um carro? Não se preocupe. A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Porto de Mós, do distrito de Leiria, tem a solução para isso e os cerca de 20 a 50 euros com os quais só conseguiria comprar as ditas luvas e metros de mangueira dos mais baratinhos são muito úteis e necessários ao projeto que os “soldados da paz” têm entre mãos: a recuperação do carro mais antigo da corporação, uma viatura de 1952, autêntica peça de museu, que cumprida há décadas a sua função operacional, pode, mesmo assim, ganhar agora uma nova vida.
“As organizações têm presente e futuro mas tiveram um passado e é importante perpetuar, referenciar e mostrar esse passado. A recuperação deste carro não é apenas o restauro físico de uma viatura que no seu tempo cumpriu um papel crucial, é também um tributo à história da nossa associação e aos seus bombeiros e dirigentes”, frisa o presidente da direção, António José Ferreira, que confessa que recuperar a velha Bedford era um sonho que ele e outros há muito acalentavam e que agora, finalmente, está no bom caminho para a sua concretização.
Recuperar um carro tão antigo tentando ser o mais fiel possível ao original não é fácil, muito menos barato. Calcula-se que passar do sonho à realidade custe, neste caso, nunca menos de 50 mil euros. E é aqui que os tais 20, 50, ou até 10 euros, podem entrar e ser uma boa ajuda. É que a associação em vez de criar a “clássica” campanha de recolha de fundos, resolveu fazer diferente e encontrou uma forma de todas as pessoas, independentemente de terem mais ou menos dinheiro, poderem ajudar.
“Criámos um catálogo com todas as peças do carro e atribuímos-lhe um valor. Assim, quem quiser pode consultar o catálogo e decidir o que quer ‘comprar’. Temos peças para todo o tipo de bolsas e todas são importantes. Com 10 ou 20 euros se calhar já consegue ‘adquirir’ um conjunto de parafusos, mas se tiver disponíveis 500, 1 000 ou 1 500 euros, poderá ‘comprar’ alguma das peças mais caras do carro”, explica o responsável, adiantando que está também a ser feito algum merchandising para venda e o plano prevê, ainda, a realização de alguns eventos solidários.
Além de pela compra das peças se tornarem um pouco “donos” da velha Bedford, todos os mecenas terão lugar assegurado numa publicação (revista ou livro) que os bombeiros querem editar e que servirá para registar a história do carro e o processo do seu restauro, bem como “perpetuar o nome de todos aqueles que tornaram este projeto, realidade”.
Tendo em conta a instituição que é e o objetivo final, o responsável associativo está confiante que a seu tempo os apoios chegarão não só de Portugal mas “um pouco de todo o mundo, onde há portomosenses emigrados, pessoas sempre muito sensíveis à causa dos bombeiros e orgulhosas da sua terra”.
Se tudo correr como está previsto, o renovado carro terá a sua apresentação pública aquando das comemorações dos 75 anos da associação, em maio de 2025, ou seja, daqui a menos de um ano. O prazo é relativamente curto mas para António José Ferreira e restante direção (a que se junta o comando do corpo de bombeiros), faz todo o sentido que essa data “redonda” e tão emblemática seja a escolhida.
Carro vai ter nova vida
“Todas as direções perceberam o valor simbólico deste carro e mantiveram-no sempre debaixo de telha. Hoje, apresenta algumas mazelas próprias de uma viatura com mais de 70 anos e parada há mais de 30 mas, de uma forma geral, está em bom estado de conservação”, adianta o responsável.
Depois de nos últimos anos ter estado guardado nas oficinas de uma empresa na localidade de Corredoura, foi levado para umas outras no centro da vila de Porto de Mós, onde elementos da direção e voluntários anónimos começaram a desmontá-lo peça a peça. Durante meses, às segundas e terças-feiras, foi ali o ponto de encontro de várias pessoas irmanadas no mesmo objetivo. Com isso poupou-se algum dinheiro e o trabalho pro bono acabou por ser a desculpa perfeita para alguns momentos de convívio porque “volta e meia” alguém lá trazia um petisco para partilhar com todos.
Desmontadas todas as peças que se podiam desmontar, a viatura seguiu para outras mãos, mãos de quem sabe cuidar da chapa, da pintura e de toda a parte mecânica, tarefas essas que serão realizadas em oficinas especializadas no concelho. Concluída essa etapa, diretores, bombeiros e quem se queira voluntariar terão desta vez a responsabilidade de montar o carro, peça a peça, um trabalho que exige perfeição e rigor para que o resultado final seja o de uma viatura tão próxima quanto possível daquilo que era há 72 anos.
“Fechaduras e frisos são só algumas das coisas que já não se encontram no mercado e então outra coisa que estamos a fazer é procurar e indagar na internet onde, eventualmente, as podemos encontrar”, conta António José Ferreira, sublinhando que toda a direção está empenhada e entusiasmada a começar por Marco Sousa e Eduardo Cunha, os dois diretores que de alguma forma estão mais envolvidos no projeto.
Para o presidente dos Bombeiros de Porto de Mós, um dos méritos desta recuperação é que não se esgota em si própria, ou seja, não se está a recuperar um carro para ficar numa mega vitrine, como uma qualquer rara peça de museu. O objetivo é que a velhinha Bedford possa voltar “ao ativo”, desta vez não para combater incêndios, mas para fins que poderão ser de âmbito educativo, cultural ou recreativo. “Temos algumas ideias mas ainda nada de muito concreto e definido. De qualquer modo, uma certeza já há: Passam por parcerias com outras entidades para que o carro tenha vida e volte a servir a comunidade, agora com outra função”, sublinha António José Ferreira.
Para ajudar, basta entrar em contacto com a corporação através dos endereços eletrónicos ou .
Isidro Bento
Jornal O Portomosense