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Berlim tem cinema português em casa

A iniciativa “Kino Tçu Hause” (Cinema em Casa), que mostra filmes portugueses ou relacionados com Portugal, começou há sete anos, em Berlim, quando Tiago Cutileiro comprou o DVD de Aniki-Bóbó.

É uma casa como outra qualquer, na larga avenida Karl-Marx-Alle, construída nos anos 50. Mesmo à frente esteve, durante uma década, uma estátua de Estaline que lembrava a importância daquela zona para a antiga Berlim comunista.

Os tempos da RDA são recordados pelo anfitrião da “Cinema em Casa”, uma iniciativa que começou há cerca de sete anos.

“Tinha acabado de comprar o DVD do Aniki-Bóbó, de Manoel de Oliveira, e tinha um conjunto de amigos portugueses mais novos que nunca tinham ouvido falar do filme e outros alemães que nem sequer tinham ouvido falar do realizador. Entretanto, houve um casal amigo que comprou um projetor. Aproveitando isso, decidimos fazer uma sessão de cinema aqui em casa”, conta Tiago Cutileiro.

O compositor e professor de música, a viver em Berlim há nove anos, revela que a primeira experiência correu tão bem que decidiu repetir umas semanas mais tarde.

“Foi na terceira sessão que percebemos que só estávamos a passar filmes portugueses e decidimos que fazia sentido ser assim, passar apenas filmes portugueses ou que estivessem, de alguma forma, ligados a Portugal”, acrescenta Tiago Cutileiro.

Há sessões de longas e curtas metragens, às vezes com a presença dos próprios realizadores, como foi o caso de João Viana, que conversou sobre o filme “Our Madness”.

“Agora estamos numa sequência de quatro filmes dedicados às nossas ex-colónias, Moçambique e Guiné-Bissau, e com dois realizadores, João Viana (que está a residir temporariamente em Berlim) e a Filipa César. Também já tivemos a Salomé Lamas ou o Eduardo Brito, por exemplo”, explica o organizador da “Kino Tçu Hause”.

O nome da iniciativa também tem uma história, primeiro chamava-se “Kino Zu Hause”, mas Tiago Cutileiro foi alertado para uma referência histórica: “a sigla ‘KZ’ era usada pelos campos de concentração e extermínio nazis”. Resolveu tirar o “z” da palavra alemã, passando a usar uma escrita “muito lusitana” com um “t” e um “ç”: “Kino Tçu Hause”.

Os sapatos ficam à entrada, como é habitual na Alemanha, assim como os casacos. A entrada é sempre gratuita.

“Claro que há um lado lusitano, tem que haver sempre uma comidinha ou uma ‘bebidazinha’, os portugueses precisam sempre de qualquer coisa para aconchegar o cinema. Fazemos sempre um bolo, ou temos uma garrafa de vinho e dizemos às pessoas para trazerem as suas coisas, mas sem qualquer tipo de obrigação”, conta Tiago Cutileiro, entre risos.

Os dias e as horas das sessões dependem sempre da vontade do organizador e do boletim meteorológico, “as casas alemãs raramente têm persianas, e se às cinco da tarde, no Inverno, está completamente escuro, às dez da noite, no Verão, ainda há luz”, comenta o compositor e professor de música português.

As pessoas são convidadas por e-mail e geralmente cada sessão conta com 15 a 20 pessoas no público.

“Libertamos uma das paredes, pomos os sofás do lado oposto, o projetor fica em cima de uma cadeira, alteramos a sala em meia hora e fica tudo feito. Um projetor razoável e uma parede branca limpa fazem toda a diferença. Mas claro que é tudo muito caseiro. No fim falamos todos sobre o filme, sobre a comida e sobre o que quisermos”, descreve Tiago Cutileiro.

O dinamizador da “Kino Tçu Hause” garante que o projeto é para continuar. São, em média, 12 as sessões realizadas por ano. Há um blogue, com o nome da iniciativa, onde é colocada informação sobre o filme, trailers, horários, e fotografias dos participantes e das comidas.

“Yvone Kane” (na foto), de Margarida Cardoso, é o próximo filme a ser exibido a 04 de novembro.

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