Celebrou-se esta quarta-feira, 14 de agosto, nos concelhos de Porto de Mós e Batalha, ambos no distrito de Leiria, o 639.º aniversário da Batalha de Aljubarrota, tendo as cerimónias sido presididas pelo ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo.
As comemorações arrancaram com pompa e circunstância logo pelas 10 horas da manhã na Capela de São Jorge, onde se celebrou uma missa campal, seguida de uma parada militar que acolheu com honra a chegada do governante, acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Jorge Vala.
Pelas 11h15 foi tempo da evocação histórica da própria Batalha de Aljubarrota, à qual se seguiu um rol de intervenções de vários dos membros presentes na tribuna de honra.
A primeira parte do programa foi encerrada pela hora do almoço com uma recriação histórica da Batalha Real, cuja organização esteve sob a alçada da Companhia Livre.
Durante a tarde, a comitiva deslocou-se para o concelho da Batalha, onde ainda antes das 15 horas prestou uma visita o Túmulo de D. João I, no Mosteiro da Batalha.
Seguiu-se a Cerimónia Comemorativa do Dia do Município da Batalha e ainda um momento dedicado à atribuição de várias distinções a personalidades batalhenses.
A BATALHA DE ALJUBARROTA PASSO A PASSO (CIBA)
Contexto Político Anterior à Batalha de Aljubarrota
Com a morte do rei D. Fernando em 1383, o Tratado de Salvaterra de Magos, celebrado em Abril desse ano entre a rainha D. Leonor Teles, o Conde João Andeiro e o Rei de Castela, estabelece que a Coroa de Portugal passaria a pertencer aos descendentes do Rei de Castela, D. Juan I, passando a capital do Reino para Toledo. O Reino de Castela iria inevitavelmente dominar Portugal. A situação que se cria provoca mal estar e não agrada á maioria da população portuguesa.
Analisando a crise política de 1383 a 1385, é possível referir que na sua origem esteve, em primeiro lugar, o descontentamento popular existente, resultante não só da degradação das condições de vida da generalidade da população, mas também pela perspectiva do Reino de Portugal vir a perder a sua independência.
Este desejo de alterações foi então facilitado pelo facto de D. Leonor Teles e os seus aliados defenderem uma solução política para Portugal, não só discutível legalmente, como claramente do desagrado da grande maioria da população portuguesa.
Em face desta circunstância, a população de Lisboa proclama D. João, Mestre de Avis, meio irmão de D. Fernando, como “regedor, governador e defensor do reino”. Perante a revolta da população portuguesa em vários pontos e cidades do Reino, o Rei de Castela, em 1384, entra em Portugal. Entre Fevereiro e Outubro monta um cerco a Lisboa, por terra e por mar, com o apoio da frota castelhana. O cerco não resulta, não só pela determinação das forças portuguesas, mas também por Lisboa estar bem murada e defendida.
Afastados momentaneamente os combates com Castela, o partido do Mestre avançou, então, para a batalha política. Reúnem-se assim em Março e Abril de 1385 as Cortes de Coimbra, que proclamam o Mestre de Avis como Rei de Portugal.
Invasão
Perante esta situação em 8 de Julho de 1385 D. Juan I, invade novamente Portugal, por Almeida, com um numeroso exército de 40.000 homens, seguindo depois por Trancoso, Celorico da Beira, Coimbra, Soure e Leiria. A esquadra castelhana havia entretanto cercado Lisboa por mar, desde Abril desse ano. O exército português, comandado por Nuno Álvares Pereira, tinha-se colocado em posição de combate. A Batalha tinha-se tornado praticamente inevitável.
Conselho de Guerra em Abrantes
A 6 de Agosto realizou-se o Conselho de Guerra português em Abrantes, depois de D. João I ter chamado Nuno Álvares Pereira que se encontrava no Alentejo a recrutar combatentes.
A maioria dos conselheiros referiu então que perante o grande número de combatentes castelhanos, seria aconselhável evitar uma batalha e realizar antes uma incursão na Andaluzia para atrair o exército castelhano, desviando-o de Lisboa. Respondeu Nuno Álvares Pereira que se Lisboa caísse, cairia todo o Reino, e o Rei de Castela roubaria e mataria todos os homens que contra ele se revelaram, pelo que se deveria provocar uma batalha. Também o Rei de Castela desrespeita os tratados que tinha prometido, pelo que se devia aproveitar a oportunidade deste ter entrado em Portugal para o combater e derrotar. Provocar uma batalha, se o exército castelhano voltasse a invadir Portugal, tinha também sido acordado, em Guimarães, entre ele e D. João I, pelo que ele não mudaria agora o seu propósito.
Vendo que não existia acordo entre os conselheiros, Nuno Álvares Pereira, com os seus 2.000 homens, abandona Abrantes, a 7 de Agosto, disposto a enfrentar sozinho os castelhanos. D. João I acabou contudo por entender e aceitar a proposta de Nuno Álvares Pereira, tendo-se os dois exércitos juntado em Tomar, a 8 de Agosto. A 14 de Agosto terá lugar a Batalha.
O Desenrolar da Batalha
No dia 14 de Agosto, logo pela manhã, o exército de D. João I ocupa uma posição fortíssima no terreno, escolhido na véspera por Nuno Álvares Pereira. No final da manhã chegam os castelhanos, que circulam pela estrada romana.
Evitam o choque com os portugueses, uma vez que isso implicaria a subida de um terreno em condições extremamente desfavoráveis. Preferem tornear a forte posição portuguesa pelo lado do mar, até estacionarem na ampla esplanada de Chão da Feira. O exército português constituído por aproximadamente 7.000 homens de armas, move-se então uns dois quilómetros para Sul e inverte a sua posição de batalha para ficar de frente para o inimigo.
Passava das 18 horas quando se deu o assalto castelhano à posição portuguesa. Uma vez iniciada a batalha, é então possível referir os cinco principais momentos do combate:
Momento I – Ataque
A impetuosa vanguarda do rei de Castela (na sua maior parte constituída por tropas auxiliares francesas, como claramente assegura Froissart) inicia o ataque provavelmente a cavalo, sendo rechaçada nas obras de fortificação antecipadamente preparadas pela hoste de D. João I, obras essas que constituíram uma surpresa absoluta para os seus arrogantes adversários. Para prosseguir o combate, os franceses são obrigados a desmontar (aqueles que o conseguem fazer) na frente do inimigo e, por isso, em posição absolutamente crítica.
Momento II – Combate a Pé
Ao saber do desbarato da sua linha da frente, D. Juan I decide mandar avançar o resto do exército então presente no Chão da Feira, maioritariamente também a cavalo.
Ao aproximarem-se da posição portuguesa, apercebem-se de que – contrariamente ao que supunham – o combate está a ser travado a pé (ou tem de ser travado a pé, dadas as características do sistema de entrincheiramento defensivo gizado pela hoste portuguesa). Por isso, os cavaleiros castelhanos desmontam cedo e percorrem a pé o que lhes falta (escassas centenas de metros) até alcançarem os adversários. Ao mesmo tempo, cortam as suas compridas lanças, para melhor se movimentarem no corpo-a-corpo que se avizinha.
Momento III – Flechas
Entretanto, os homens de armas de D. Juan I vão sendo crivados de flechas e de virotões lançados respectivamente pelos arqueiros ingleses e pela “ala dos namorados” portuguesa, o que, juntamente com o progressivo estreitamento da frente de batalha (devido aos abatises, às covas de lobo e aos fossos) os entorpece, embaraça e torna “ficadiços” (de acordo com Fernão Lopes) e os aglutina de maneira informe na parte central do planalto; tais foram, porventura, os minutos mais decisivos da jornada.
Momento IV – Alas Castelhanas
Quanto às alas castelhanas, essas permanecem montadas, destinadas que estavam – como era tradicional na época – a ensaiar um envolvimento montado da posição portuguesa, coisa que, devido à estreiteza do planalto, apenas a ala direita (chefiada pelo Mestre de Alcântara ) terá conseguido, e mesmo assim numa fase já tardia da refrega.
Momento V – Pânico e Fuga
O pânico apodera-se do exército castelhano, quando dentro do quadrado português, a bandeira do monarca castelhano é derrubada. Os castelhanos precipitam-se então numa fuga desorganizada. Segue-se uma curta, mas devastadora perseguição portuguesa, interrompida pelo cair da noite. D. Juan de Castela põe-se em fuga, em cima de um cavalo, juntamente com algumas centenas de cavaleiros castelhanos. Percorre nessa noite perto de meia centena de quilómetros, até alcançar Santarém, exausto e desesperado. Até à manhã do dia seguinte, milhares de castelhanos em fuga são chacinados por populares nas imediações do campo de batalha e nas aldeias vizinhas.
O restante das forças franco-castelhanas saem de Portugal, parte passando por Santarém e depois por Badajóz e a outra parte, através da Beira, por onde tinham entrado.
No campo de batalha, as baixas portuguesas foram cerca de 1.000 mortos, enquanto no exército castelhano se situaram em aproximadamente 4.000 mortos e 5.000 prisioneiros. Fora do campo da batalha, terão sido mortos nos dias seguintes pela população portuguesa, cerca de 5.000 homens de armas, em fuga, do exército castelhano. Devido ao significado político da Batalha e aos seus numerosos nobres e homens de armas que aí morreram, Castela permaneceu em luto por um período de dois anos.
Consequências da Batalha
Para a Europa, a Batalha de Aljubarrota constituiu uma das batalhas mais importantes ocorridas em toda a época medieval.
Para Portugal, esta batalha, ocorrida no planalto de S. Jorge no dia 14 de Agosto de 1385, constituiu um dos acontecimentos mais decisivos da sua História.
Sem ela, o pequeno reino português teria, muito provavelmente, sido absorvido para sempre pelo seu poderoso vizinho castelhano.
Sem o seu contributo, o orgulho que temos numa história largamente centenária, configurando o estado português como uma das mais vetustas e homogéneas criações políticas do espaço europeu, não seria hoje possível.
A vitória portuguesa em Aljubarrota permitiu também a preparação daquela que seria a época mais brilhante da história nacional – a época dos Descobrimentos – que, de outra forma, pura e simplesmente não teria ocorrido.
A Batalha de Aljubarrota proporcionou definitivamente a consolidação da identidade nacional, que até então se encontrava apenas em formação, e permitiu ás gerações futuras portuguesas a possibilidade de se afirmarem como nação livre e independente.