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Associação recolhe testemunhos portugueses sobre discriminação em França

A associação Memória Viva está a recolher testemunhos ‘online’ sobre episódios ou momentos de discriminação vividos pela comunidade portuguesa em França, para incentivar o estudo do racismo em relação aos imigrantes oriundos de terras lusas, anunciou fonte da organização.

“É uma reflexão que temos na associação Memória Viva há bastante tempo, nas discussões que temos entre gerações. Todos sentimos de alguma forma a discriminação e mesmo as gerações mais jovens ainda são confrontadas com isso”, afirmou Hugo dos Santos, ex-presidente da associação Memória Viva e que dinamiza esta ação.

O inquérito está ‘online’ e pode ser encontrado na página na Internet da associação Memória Viva e nas redes sociais. O inquérito não tem uma data precisa para terminar e os relatos podem ser feitos de forma anónima, assim como também podem ser feitos na terceira pessoa, através de um familiar ou amigo.

“Pode fazer-se um testemunho anónimo, mas nós aconselhamos a pôr nome e o contacto para trocar e-mails, se necessário, e para dar notícias sobre o projeto. Numa segunda fase, todos os testemunhos vão ser anónimos para serem, em seguida, estudados”, indicou Hugo dos Santos.

O pedido de testemunhos, que começou no início desta semana, é uma forma de encorajar os investigadores franceses e portugueses a debruçarem-se sobre a discriminação dos portugueses em França, já que, até agora, este tem sido um “parente pobre” nos estudos sobre a imigração em França.

“Há uma relação muito complicada entre a França e as suas ex-colónias e há tendência de fechar o estudo da imigração em França nessas comunidades. E isso fez com que a imigração portuguesa fosse sempre o parente pobre desse tipo de pesquisa”, indicou Hugo dos Santos.

Apesar da iniciativa, a associação ainda não sabe se haverá adesão por parte da comunidade devido a “complexidades” e “nuances” da imigração portuguesa em França.

“Há muitos portugueses que sentem que devem algo à sociedade francesa que, bem ou mal, os acolheu e isso torna difícil falar e depois claro que são coisas traumatizantes. Também existe esta coisa de que como os portugueses são tipicamente brancos e católicos, são usados nos discursos racistas que querem mostrar aqui que existe ‘uma boa imigração'”, referiu.

Na sua experiência pessoal, Hugo dos Santos disse que a discriminação é algo “banal”.

“Eu senti discriminação em cada trabalho que tive. A maior parte das vezes é uma coisa leve, como piadas. Mas é algo que está muito presente e, na minha geração, é banal. Mas não há uma grande comunicação entre as gerações sobre este assunto”, concluiu.

A associação Memória Viva existe desde 2003 de forma a recolher e transmitir a memória da comunidade portuguesa em França, possuindo um fundo de arquivos com documentos, filmes e depoimentos áudio.

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