De que está à procura ?

Colunistas

As agressões intoleráveis a estrangeiros

As agressões bárbaras em Olhão por um grupo de jovens a um cidadão imigrante são um crime grave e uma violação grosseira dos Direitos Humanos. Seja qual for o móbil do crime, elas revelam ódio, indiferença e falta de respeito pela dignidade de outro ser humano e por isso mesmo com potencial para serem mimetizadas como um ato xenófobo e racista.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que todo o ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, valores que foram flagrantemente atingidos. Estas agressões criminosas são uma vergonha para todos nós, causam repugnância, exigem justiça e ninguém devia ficar indiferente, para que não voltem a repetir-se.

O imigrante que foi brutalmente espancado, agredido à paulada e quase foi incendiado, e que podia ter morrido, era tão só um simples cidadão à procura de uma vida melhor, tal como tantos milhões de portugueses já o fizeram. O mais grave é a perversão do carácter que as agressões revelam, de jovens que escapam às instituições e à família e vivem em sociedade totalmente despojados de empatia humana, o que é preocupante e exige reflexão e intervenção.

Que tipo de pessoas, adolescentes, são estas que se orgulham de humilhar pela violência outros cidadãos, ao ponto de colocarem nas redes sociais a brutalidade das suas agressões como uma fanfarronice, como se fosse um troféu? Só um estranho sentimento de impunidade pode explicar que as pessoas cometam crimes desta natureza, os exibam publicamente e achem que nada lhes acontece.

Segundo relatam as notícias, os jovens eram bem conhecidos em Olhão por agredirem estrangeiros já por várias vezes, agindo em matilha, o que não pode deixar de ser visto como um ato racista e xenófobo, o que necessariamente levanta a questão de saber se houve ou não algum tipo de intervenção ou de aviso de entidades públicas que pudesse ter evitado qualquer ação passível de degenerar em violência.

Estamos perante um crime inadmissível, em contradição flagrante com a natureza humanista do povo português e com a nossa história da emigração, profundamente enraizada na nossa identidade coletiva. Um povo que sempre emigrou só pode ter o maior respeito por todos os imigrantes que nos procuram. E, no entanto, não é nada disso que revelam os casos de Olhão, de Odemira ou da Mouraria. Por que falta esta pedagogia na sociedade portuguesa?

Infelizmente, os discursos contra os estrangeiros estão hoje mais presentes na sociedade, o que aumenta a possibilidade de ocorrerem estes acontecimentos dramáticos. A extrema-direita tem dado o seu contributo com posições hostis aos estrangeiros, ilustradas por frases aparentemente cândidas como “não podem entrar todos de qualquer maneira”, o suficiente fazer sair da toca os racistas, os xenófobos e os sem-humanidade e motivar para a violência algumas almas mais broncas.

Felizmente, a sociedade portuguesa está longe de ser assim e de pactuar com a barbárie de Olhão e com outros casos idênticos, que de vez em quando vão ocorrendo. Nas diversas declarações de entidades oficiais como o Presidente da República, o Ministro da Administração Interna, nos votos de condenação na Assembleia da República e até mesmo pela reação da população de Olhão, fica bem evidente a rejeição sem reservas dos infelizes acontecimentos e da existência de uma indignação generalizada.

Mas será um péssimo e perigoso sinal se as agressões ficarem sem consequências, o que potenciaria a possibilidade de voltarem a repetir-se. Com disse o Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, “a agressão bárbara” que ocorreu em Olhão é um “comportamento inadmissível e inaceitável” e deve ser “exemplarmente punida”.

Paulo Pisco

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA