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Aldeia portuguesa de 200 habitantes recebe Europeu de motocrosse

Fernão Joanes tem apenas cerca de 200 habitantes, mas a localidade organiza a etapa portuguesa do Campeonato Europeu de motocrosse, em 29 e 30 de maio, com a ajuda voluntária da população.

Há muito que a escola fechou na aldeia do concelho da Guarda e a população residente foi envelhecendo, mas na preparação da prova há tarefas para gente de todas as idades e a freguesia, onde há apenas dois cafés, é habitualmente visitada por milhares de entusiastas da modalidade, que este ano, devido à covid-19, não se podem deslocar ao Crossódromo das Lajes para verem os pilotos desafiarem a gravidade.

A prova é organizada pela Associação Cultural e Recreativa de Fernão Joanes (ACRFJ), com o envolvimento das duas outras agremiações da terra e das gentes da aldeia e de freguesias vizinhas, que executam tarefas habitualmente pagas noutros circuitos.

“Existe um completo envolvimento da freguesia. São mais de 100 voluntários que colaboram na preparação e durante o fim de semana. Tarefas que em outros locais têm de ser pagas, nós temos pessoas que foram adquirindo conhecimento, ou têm formação nessas áreas, que as desempenham neste espírito de voluntariado que aqui temos”, explica, à agência Lusa, António Bico, 31 anos, o presidente da associação juvenil promotora do evento.

Segundo o dirigente, “durante um mês, toda a gente está com o foco na atividade” e “todos têm um papel a desempenhar”. As crianças podem “pôr e levantar mesas”, há gente mais velha “a tratar dos assadores”. Os 35 comissários de pista fizeram formação e há quem tenha de assegurar que durante o dia não lhes falta a alimentação.

Tem sido assim desde 2014, quando Fernão Joanes recebeu pela primeira vez uma etapa do europeu. A tradição do motocrosse tem cerca de duas décadas, quando se faziam provas de caráter amador. Ninguém da localidade participa em provas oficiais, mas existia “a carolice” que fez com que se criassem as condições para receber a competição.

Depois de a pandemia ter obrigado a cancelar a edição do ano passado, quando “já se estava numa fase adiantada” da organização, a nova calendarização determinou que a etapa portuguesa fosse a primeira da fase sudoeste do campeonato europeu, nos mesmos dias em que vai decorrer a terceira ronda do campeonato nacional.

Com a decisão tomada no final de abril, os prazos para a preparação foram encurtados e não há tempo a perder. Todos têm outros afazeres e os tempos livres são dedicados à organização da prova.

Na pista, remodelada em 2011 e depois em 2014, para cumprir os requisitos internacionais, não há mãos a medir. Uns marcam saltos, outros afixam redes, faixas publicitárias, há que distribuir caixotes do lixo pelo recinto, passar com maquinaria no piso e, chegada a data, é necessário cozinhar, lavar loiça ou tratar de mesas e cadeiras.

“Há muito trabalho físico”, salienta António Bico, que destaca a elevada carga burocrática a que dar resposta. Este ano com preocupações acrescidas a que a pandemia obriga. As bilheteiras não vão estar a funcionar, nem há controlo de entradas, mas os voluntários serão reencaminhados para tarefas vocacionadas para evitar a propagação do vírus.

A promoção e os trabalhos multimédia são também feitos por gente que começou na associação, entretanto se licenciou e “continua a dar o seu contributo, agora com uma experiência maior”. O mesmo acontece com o pessoal médico e socorristas. Nas duas últimas provas, uma equipa estava destacada para inquirir quem entrava no recinto e concluiu que 80% dos visitantes são de fora do distrito da Guarda.

Numa edição normal, chega-se à aldeia “e não se vê ninguém, porque todos os habitantes estão no crossódromo, no cimo da Aldeia de Montanha”, descreve o presidente da ACR de Fernão Joanes. Por outro lado, os visitantes que se espalham ao longo da pista, indiferentes ao pó, ao cheiro a combustível e entusiasmados com o ‘roncar’ dos motores, chegam de várias latitudes e dinamizam a hotelaria da região.

A intenção é “proporcionar às pessoas da aldeia algo diferente” e a competição, orçada em 30 mil euros, realiza-se à base do “esforço, dedicação e espírito de sacrifício de muitos voluntários”, acentua António Bico, para quem é importante “dar aos jovens da aldeia as mesmas oportunidades” de quem vive fora.

A etapa do europeu de motocrosse é a principal atividade, mas há outras, como o ensino gratuito de música, dança, teatro, futebol amador ou a festa da transumância.

“O fim de semana do motocrosse é uma espécie de festa e de muito convívio em Fernão Joanes. Este ano vai ser bastante diferente, mas queremos dar motivação à modalidade, que esteve parada, e mostrar que no interior há o conhecimento para fazer coisas boas”, vinca o presidente, que conta com a vontade de voltarem à competição para prever a participação de cerca de 60 pilotos, como aconteceu em 2019.

#portugalpositivo

 

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