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Na última semana, por motivos pessoais, voltei a vestir a pele de turista no Luxemburgo. Após os três primeiros dias neste país, nunca mais tinha dedicado algum tempo simplesmente a vaguear pelas ruas e a olhar com outros olhos para as atrações que a cidade do Luxemburgo nos oferece. Sendo agora, ainda que temporário, um habitante deste país, após os primeiros dias, comecei a seguir uma rotina normal de alguém que estuda ou trabalha.

Ao contrário do que muita gente imagina, Erasmus não são umas férias de cinco ou seis meses. Aliás, até poderão ser, no entanto, irão assemelhar-se mais àquelas férias que tiramos para ficar em casa a ver filmes no sofá, do que às memoráveis em que vamos conhecer o mundo e tirar fotos para fazer inveja aos amigos. Lamento se estou a desiludir os mais jovens que possam estar a ler este texto, mas a verdade é que, desde que cá estou, estou bem mais próximo de me tornar um crítico de séries ou comentador de futebol, do que um fotografo de viagens ou um viajante profissional.

Voltando à minha segunda vida como turista no Luxemburgo, foi bastante interessante voltar a deambular pelas ruas. De facto, confirmei bastantes coisas das quais já me tinha apercebido aquando da primeira passagem. Desde logo, existem efetivamente muitos bancos. Porém, o que mais me agrada na cidade é o seu aconchego. Sendo uma cidade pequena mas, ao mesmo tempo, uma capital, a Cidade do Luxemburgo consegue ter o melhor de dois mundos. Por um lado, tem os serviços, a oferta e a envolvência de qualquer grande cidade. Isso nota-se claramente nas zonas circundantes ao centro histórico como Kirchberg ou nos acessos disponíveis para entrar na cidade. Porém, noutro sentido, o facto de ser uma cidade pequena, inserida num país igualmente pequeno, permite-lhe ter a pacatez e o aconchego que as grandes metrópoles, invariavelmente, não permitem. Basta uma descida da zona alta para o Grund e, a certa altura, nem nos recordamos que estamos numa capital no centro da Europa.

Outro ponto que me agrada substancialmente nesta cidade é o condicionamento do trânsito no centro histórico. Pode parecer um pormenor, mas está muito longe de o ser. Há muito que defendo que qualquer cidade ganha uma nova vida com um centro histórico sem carros e isso verifica-se em inúmeras cidades por essa Europa fora. Atrai-se mais comércio, é mais agradável para as pessoas, é mais limpo e menos ruidoso. Com um bom sistema de transportes públicos, todos ficam a ganhar. Esta é uma medida que há muito defendo para o Porto que, sendo uma cidade com tantas virtudes, perde muito pela quantidade de carros no centro.

Como já me tinha apercebido nos meus primeiros dias por cá, a Cidade do Luxemburgo é uma surpresa no verdadeiro sentido da palavra. Apesar de não estar a par das estatísticas acerca do Turismo, basta uma pesquisa rápida para percebermos que a Cidade do Luxemburgo não está incluída em nenhuma lista de pontos a visitar na Europa. Consultei listas de 10 destinos, de 20 e até mesmo de 100 e em nenhuma encontrei a Cidade do Luxemburgo. Em Portugal, quando se fala do país, a associação é clara e é feita com a palavra trabalho, nunca com a palavra férias.

Fazendo uma comparação com Portugal, neste momento, tanto o Porto como Lisboa, vivem fases de protagonismo nunca antes vistas no que concerne ao turismo. Mês sim mês não, uma das cidades ganha um prémio ou reconhecimento. Sem dúvida que o principal fator para este fenómeno se prende com as características das cidades em causa, quer a níveis culturais como morfológicos. Porém, existe uma clara parte que está intimamente relacionada com o Marketing. Por vezes, mais importante do que o produto, é a forma como ele é vendido. Não sei se por falta de necessidade, ou até mesmo por questões estratégicas mas, para o potencial do Luxemburgo, sinto que o produto não está a ser tão bem apresentado como podia.

Tenho dúvidas que, fora do Luxemburgo, muitas pessoas saibam da existência de locais históricos como são as Casamatas, tal como não devem estar a par da ligação com momentos marcantes da História que o país tem, como provam os inúmeros monumentos e memoriais relacionados com ambas as Guerras Mundiais. No mesmo sentido, não devem ser muitos aqueles que, fora do país, associam as belas paisagens e percursos de Mullerthal ao Luxemburgo. Tal como ainda menos devem saber da existência de inúmeros e imponentes castelos por cá. Porém, todos sabem da riqueza do país, da quantidade de Bancos, ou do elevado nível de vida. Apesar da óbvia importância destas últimas características, penso que o Luxemburgo poderá ser bem mais do que apenas um centro económico e de negócio.

Após essa tentativa de estimular as visitas ao Luxemburgo existirão, naturalmente, pontos a melhorar. Primeiramente, senti nesta minha segunda ida como turista à Capital que faltam sítios para repousar com uma bebida ou um lanche. Locais para conversar e apreciar o que nos rodeia, como se estivéssemos em casa. Neste ponto, admito que o erro possa ser meu e ainda não tenha descoberto os locais certos.

Noutro aspeto, as obras pelo país deveriam ser pensadas de outra forma. É difícil atravessar um quarteirão sem encontrar estradas cortadas, ruas esburacadas ou gruas levantadas. Por mais fantástica que seja essa capacidade de remodelação e restauração constante, talvez fosse possível fazê-lo de modo a não ser tão agressivo ao olhar daqueles que visitam o país.

Após esta minha experiência, sempre que alguém me perguntar um local para um fim-de-semana prolongado irei responder, invariavelmente, Luxemburgo. Irei fazê-lo, essencialmente, por dois motivos. O primeiro, porque acredito firmemente que a pessoa em causa terá uns dias bem passados. Dias cheios de descobertas, de momentos culturais interessantes e de paisagens deslumbrantes. O segundo será porque, já que ninguém parece muito interessado em vender o destino, eu, na minha humilde insignificância, irei fazê-lo.

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