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A vendedora de queijadas de Pereira

Não é a primeira vendedora de queijadas de Pereira com quem tenho confusão. Há uns anos, quando casei, talvez apenas manias, a Ana insistiu que fossemos clientes da padeira que já abastecia alguns vizinhos do prédio.

Falei com a senhora, chegamos a acordo e todos os dias era pão, croissants, queijadas, etc… Até que ficamos a ficar gordos e a acordar apenas a tempo de tomarmos um duche, comermos qualquer coisa à pressa e irmos trabalhar.

O pão, os croissants e as queijadas e iam-se acumulando. Um dia falei com a senhora e abdiquei das queijadas. A padeira ficou um pouco chateada, ainda para mais, as queijadas eram de Pereira, tal como a senhora. Criou-se alguma tensão mas facilmente resolúvel. O problema foi quando decidi suspender também a compra de croissants e só ficar com o pão. No início pensou que era uma brincadeira e continuou a ignorar os recados que lhe enviava dentro do saco de pão. Só parou quando lhe disse que não voltaria a pagar croissants, mesmo me deixasse os ditos no saco. Na verdade só parou quando entendeu no final do mês, que eu não lhe tinha pago os croissants. Chamou-me de tudo e a nossa relação acabou naquele momento. Mais tarde encontrei-a em Pereira do Campo na feira da queijada e falou comigo muito bem, ao ponto de eu lhe comprar uma dúzia.

Habitualmente e se ando por perto, paro em casa da D. Maria de Lurdes e compro quando me apetece e quantas eu quiser. Estava longe é de desconfiar que a saga das vendedoras de queijadas de Pereira continuaria.

Há dois ou três anos, a minha sogra descobriu a vendedora de queijadas e comprou-lhe uma dúzia. Eram deliciosas e passou a ser uma cliente frequente e a senhora bate-lhe à porta de casa todas as sextas-feiras de manhã. De “manhã” e “bater à porta” são expressões suaves do que se passa habitualmente. O que acontece é que muitas vezes nem sequer 8.00h da madrugada, tudo em casa dorme menos eu, e a senhora aparece para dar a boa nova: Chegaram as queijadas fresquinhas!

Também não bate à porta porque ataca furiosamente a maçaneta e a campainha e que tiver sono ligeiro, certamente pensará que se trata da polícia ou dos bombeiros. Como vou eu a correr para a porta e raramente me lembro que é a mulher das queijadas quando abro, vejo sempre a mesma mulher com um cesto na cabeça. “A senhora está a dormir”, “a senhora não está” não serve de justificação, alguém tem que lhe comprar as queijadas. No início eu comprava-lhe com o compromisso de que nunca mais bateria à porta antes das 9:30h. Nunca resultou porque está com pressa, porque as queijadas estão acabadas de fazer e outras motivos de razão duvidosa.

Uma vez disse-me que “a senhora” compra habitualmente duas dúzias e eu fui na conversa. Sobraram imensas queijadas.

Numa outra vez, disse-lhe que não lhe ia comprar queijadas por nesse dia ia de férias para o Algarve. Então, a senhora achou que, não havendo queijadas de Pereira do Campo e indo eu duas semanas para o Algarve, talvez fosse melhor levar cinco dúzias. Esclarecia então, em vão, que existe mais doceria no mundo, para além da feita em Pereira. Disse então algo que a ofendeu deveras: que queijada por queijada, preferia as de Tentúgal. A sério, eu às vezes tenho uma paciência de santo.

O que me vale é que eu estou poucas vezes com ela e normalmente há problemas. Ela ataca à sexta-feira na zona da estação de comboios e faz outras zonas noutros dias da semana. Só temos um “frente a frente” duas ou três vezes por ano.

O que aconteceu este ano e com que a senhora tenha feito queixa de mim a vários familiares, foi o seguinte: Resolvi não lhe comprar queijadas argumentando que “a senhora não estava disponível” e seria melhor passar por lá daí a uma hora. Questionou-me se “a senhora” estava em casa, se estava doente. Na verdade a minha sogra estava apenas a dormir e respondia-lhe que ela não estava disponível.

Podia lá ter estado imenso tempo, mas resolvi acabar a conversa da seguinte forma: “já lhe disse seis vezes que a senhora não está disponível e que eu não lhe vou comprar queijadas. Quantas vezes vou ter que dizer a mesma coisa até a senhora se ir embora?”. Ficou notoriamente ofendida.

Aos meus familiares, disse-lhes que eu teria acordado mal disposto. A meio da manhã, lá encontrou a minha sogra que lhe comprou as queijadas e eu, mais tarde, comi duas deliciosas.

Enfim, comprar o que se quer, quando se quer e na quantidade necessária, escapa-lhe um pouco. É claro que irei voltar a comprar-lhe mas calma. Ficará chateada quando me encarar e depois? Deixará de me vender?

 

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