(Porque se envelhece, às vezes mesmo não o sabendo…)
Dedicado a alguém que conheço e que sofre de Alzheimer.
E agora, olhem para mim,
Sou apenas a sombra do homem que fui.
Olhem-me dentro dos olhos e assim,
Poderão ver anos que a solidão reflui,
O homem que fui e está dentro de mim.
Caminho pelas ruas deambulando,
Perdido em sombras que o passado levou,
Percorro caminhos procurando,
O homem que fui e já não sou,
E as pessoas indiferentes, vão passando.
Se ao menos vocês pudessem ver
Dentro dos meus olhos a solidão,
Saberiam que feliz eu pudesse parecer,
Mas na verdade isso não,
Era apenas eu a sofrer.
E nos momentos que me viram rir,
Nos momentos em que parecia feliz,
Era apenas o meu vazio a mentir,
Como se fosse essa a vida que sempre quis,
Com se fosse esse o meu sentir.
Se ouvissem o que em desespero vos digo,
Se nas entrelinhas me conseguissem ler,
Saberiam que sou como um sem abrigo,
Uma alma em constante sofrer,
Um pobre sem o ser, um mendigo.
E agora olhem, olhem bem para mim,
Sou a sombra do homem que queria ser,
E Deus, porque nos criaste assim,
Porque nos deixas sofrer
Se para viver, é tão triste o nosso fim?
Não reconheço os dias que amanhecem,
E já nem sei se aqui estou,
Perdoem-me aqueles que me conhecem,
Porque eu não me conheço, não sei quem sou.
Perdoem o trabalho que vos dou, e não merecem.
E agora, olhem bem para mim,
Sou apenas a sombra do homem que fui.
Quando novo tive sonhos e assim,
Como um rio que corre, que flui,
Do homem que fui, foram-se os sonhos antes do fim.
(Possivelmente Poemas)