De que está à procura ?

Lifestyle

A segunda pele de Leonor Antunes em Veneza

A artista plástica portuguesa Leonor Antunes criou uma exposição para representar Portugal na Bienal de Arte de Veneza, que é “como uma segunda pele”, no Palazzo Giustinian Lolin, onde nasceram diálogos entre a sua obra e a cidade.

Em declarações à agência Lusa, a artista, que está a finalizar o projeto expositivo para ser inaugurado a 08 de maio, disse estar “muito satisfeita” com a montagem do seu trabalho, que irá concorrer ao Leão de Ouro da Bienal, com outras 90 representações nacionais.

“Esta exposição é importante porque descobri coisas novas no meu trabalho, aprendi coisas novas”, disse a artista à Lusa, questionada sobre qual o valor pessoal, na carreira artística, quanto à presença na Bienal de Veneza.

“Não vejo as coisas nesses termos. Eu já mostrei o meu trabalho aqui anteriormente, e o que me interessa é saber se consigo fazer o que quero”, disse a criadora de 47 anos.

Intitulado “a seam, a surface, a hinge or a knot” (“uma costura, uma superfície, uma dobradiça ou um nó”, em tradução livre), o projeto tem pré-abertura marcada para 08 de maio, e a bienal abre ao público a 11 de maio, prolongando-se até 24 de novembro.

Sobre o processo de trabalho, que envolve uma equipa de sete pessoas, Leonor Antunes disse que foi muito difícil e complexo: “Não estou habituada a trabalhar assim, num espaço histórico com limitações, no qual são necessárias autorizações oficiais para fazer mudanças”.

“Seria mais fácil se Portugal tivesse um pavilhão próprio”, comentou, sobre o facto de o país, entre outros, não possuir um pavilhão permanente nesta bienal para acolher as exposições de arte e arquitetura.

O projeto de Leonor Antunes resulta de uma pesquisa que tem vindo a realizar já há alguns anos, em anteriores exposições que fez em Milão e Veneza, sobre o trabalho de figuras importantes no contexto da arquitetura de Veneza, nomeadamente Carlo Scarpa, Franco Albini e Franca Helg e, mais recentemente, as arquitetas Savina Masieri e Egle Trincanato.

“São estas pessoas que me fascinaram e cujo trabalho me inspirou”, salientou.

Sobre o Palazzo Giustinian Lolin, onde está a fazer a intervenção, a artista descreveu-o como “um espaço difícil para trabalhar, porque, sendo património histórico, não é possível tocar nas paredes ou no chão do edifício, e o projeto é totalmente ‘site specific'” (concebido para este espaço, em si mesmo).

As obras em escultura, que vai apresentar no interior de três salas do edifício, foram feitas em oficinas de carpintaria, em metal, cortiça, cabedal e vidro, em Veneza, Berlim e Lisboa.

“Consegui estabelecer um diálogo entre o meu trabalho, este edifício e a cidade, e contornei a impossibilidade de suspender as peças com a criação de esculturas verticais”, descreveu a artista, que conseguiu retirar cortinas e candelabros no interior, e dar-lhe uma atmosfera moderna.

Sobre a forma como sentiu a polémica suscitada em março, quando o projeto foi apresentado publicamente, em Lisboa, escusou-se a comentar: “Não é um tema para mim. As pessoas gostam de ter motivos para falar”.

Na altura, afirmou que nunca aceitaria representar Portugal na Bienal de Arte de Veneza deste ano, se estivesse neste momento um Governo de direita a dirigir o país.

Estas declarações foram mal recebidas pelos partidos de direita em Portugal, tendo algumas figuras criticado a escolha desta artista que representava o Estado Português, e não um Governo em particular.

Leonor Antunes, que foi escolhida pelo curador João Ribas para criar um projeto de representação oficial portuguesa oficial na 58.ª Bienal de Arte de Veneza, disse que “as pessoas esquecem-se que o mais importante é o trabalho que se fez, e como a exposição em Veneza vai ser gerida e acompanhada”.

Mesmo assim – disse à Lusa -, não retira nada do que disse, na altura: “Portugal é quase uma exceção. É preciso valorizar isso. Há muitos poucos países na Europa com um governo de esquerda”.

“Todos os artistas que respeito têm uma opinião política. Podem é não manifestá-la. Os artistas têm o direito às suas opiniões políticas, como qualquer pessoa”, opinou a artista, que reside em Berlim, onde trabalha habitualmente.

Em março, Leonor Antunes lamentou que “alguns países estejam a tornar-se regimes fascistas”, e disse que era “uma situação grave”.

“Eu estou a representar o meu trabalho, a mim própria, mas também represento Portugal, e defendo o Governo que existe no país”, sustentou, na altura.

A artista voltou a dizer à Lusa que “é muito assustador o que se está a passar no mundo, com o populismo e os extremismos de direita”.

Sobre a possibilidade de futuras exposições em Portugal, disse não ter esses projetos para os próximos anos, mas sim noutros países.

“Para mim não é importante o país onde exponho”, disse, acrescentando que em Portugal já mostrou o seu trabalho na Fundação Calouste Gulbenkian, na Culturgest e em Serralves, instituições culturais que mais lhe interessavam.

Sobre um regresso a Portugal para viver – país que visita três vezes por ano – a artista plástica considera que “fazer essa mudança seria mais difícil”.

“Tenho a minha equipa em Berlim e consigo trabalhar ali bem, com tudo o que preciso”, justificou.

De acordo com declarações do diretor-geral das Artes, Américo Rodrigues, na conferência de imprensa, a representação oficial portuguesa em Veneza, este ano, tem um custo de 500 mil euros, cerca de 200 mil pagos pelo Ministério da Cultura.

O restante, disse, na altura, Leonor Antunes, era proveniente das galerias de arte com as quais trabalha habitualmente, fruto de apoios de vários colecionadores.

Porém, disse à Lusa que “o valor global ainda não está determinado, porque a exposição vai continuar a ter as suas despesas, com uma programação cultural”, que se prolonga até novembro, com conversas e concertos.

A 58.ª Exposição Internacional de Arte vai decorrer de 11 de maio a 24 de novembro deste ano, na cidade italiana, com curadoria do britânico Ralph Rugoff, diretor da Hayward Gallery, em Londres, e terá como tema “Tempos Interessantes”.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA