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A renovação vem de fora

Dia D menos 30. Falta um mês para as eleições.

Acabo de sair de uma reunião da comissão comunal consultiva de integração (CCCI) da Cidade do Luxemburgo, a última deste mandato. Após as eleições de 11 de junho, será necessário nomear uma nova comissão. Acontece que a CCCI é especial: criada por um regulamento grão-ducal[1] e obrigatória em todas os municípios, é composta por cidadãos luxemburgueses e estrangeiros nomeados pelo conselho municipalno seguimento de um convite à apresentação de candidaturas. Por outras palavras, trata-se da única comissão consultiva cujos membros não são indicados diretamente pelos partidos políticos: qualquer pessoa interessada pode candidatar-se.

Na prática, porém, os partidos políticos procuram «empurrar» alguém das suas respetivas órbitas para a CCCI, pelo que alguns membros da CCCI estão efetivamente ligados a um partido (como eu, por exemplo). Outros vêm do mundo associativo. Os meros cidadãos «lambda» são poucos. Vários membros estão nesta comissão desde a sua criação, ou seja, há muito tempo. Todos são pessoas generosas: dedicam boa parte do seu tempo livre a projetos múltiplos, ao bem estar da comunidade e à promoção de uma cidadania plena e de uma convivência salutar entre todos – o famoso vivre-ensemble; e, nos últimos tempos, esfalfaram-se para tentar levar mais estrangeiros a recensearem-se.

Hoje, nas palavras de agradecimento que nos dirigiu, o presidente da CCCI, o vereador Maurice Bauer, fez votos de que, após as eleições municipais, possamos prosseguir o nosso trabalho conjunto e exortou-nos a apresentar novamente as nossas candidaturas à CCCI. Alguns dos meus colegas tencionam fazê-lo e ainda bem.

Fiquei pensativa. Confesso que a perspetiva de me encontrar com os mesmos, na mesma comissão, com o mesmo presidente, por mais um mandato, me desconsola. Porquê? Por uma razão que pouco tem de ver com as qualidades pessoais de cada um: é que a renovação não vem do interior. Após anos e anos a trabalhar juntos, estamos tão acostumados uns aos outros, tão calhados em táticas e modos de comunicação repetitivos que quase podemos adivinhar, a cada momento, quem vai dizer o quê.

A renovação vem de fora. São precisas energias e ideias novas. E não me venham dizer que não há pessoas interessadas. Há, sim, desde que se criem condições para que elas apareçam. A primeira condição é que alguns se vão embora. Para criar espaço. Outros ficarão para transmitir memória, sabedoria e conhecimentos a quem vier. É com uma mescla de continuidade e renovação que o próximo conselho municipal poderá compor uma CCCI dinâmica e eficaz.

Lembrei-me daquela frase «Os políticos e as fraldas devem ser mudados com regularidade pela mesma razão[2]». 

É por isso que não penso voltar a candidatar-me à CCCI, não vá o diabo tecê-las e eu transformar-me numa fralda. Todo o cuidado é pouco. Vou, isso sim, começar à procura de sangue novo. Avis aux amateurs.

Seguindo esta mesma linha de raciocínio, e visto que fraldas há muitas, espero que, no próximo dia 11 de junho, o eleitorado da capital se decida a mudar algumas, – no pior dos casos, para novos modelos da mesma marca.

(Eu não disse isso…)

Eduarda Macedo


[1] https://legilux.public.lu/eli/etat/leg/rgd/2011/11/15/n2/jo

[2] Sobre o presumível autor desta citação, ver https://observador.pt/factchecks/fact-check-citacao-de-eca-de-queiroz-sobre-politicos-e-fraldas-e-verdadeira/

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