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“A língua portuguesa está a ser duramente atacada na sua própria pátria”

© Ricardo Silva / BOM DIA

“Pacemaker” ou “marca passo”? “Sponsor” ou “patrocinador”? A inserção de vocábulos de origem estrangeira na língua portuguesa divide opiniões e foi precisamente sobre esta temática que Jorge Madeira Mendes, antigo tradutor da Comissão Europeia, se debruçou durante a sua intervenção na conferência Portugal+ Londres, organizada pelo BOM DIA.

Atualmente a residir em Portugal mas com muitos anos de emigração repartidos entre Moçambique, Luxemburgo ou Bélgica, Madeira Mendes sempre se assumiu como um defensor da língua portuguesa e aproveitou a experiência de uma vida inteira dedicada à tradução para deixar um alerta: “A língua portuguesa está a ser duramente atacada na sua própria pátria”.

Para sustentar o ponto de vista que norteou a intervenção designada de “A língua portuguesa na diáspora”, Jorge Madeira Mendes argumentou que “hoje, talvez por contágio da globalização ou snobismo, o português importa muitos termos, sobretudo de língua inglesa”.

Na ótica do antigo tradutor da Comissão Europeia, “o português é uma língua com personalidade”, pelo que “não precisa de importar muitos termos”. “Mas isto não é uma crítica, sobretudo à língua inglesa”, esclareceu. “Acho que a língua inglesa, do Reino Unido, é a língua mais bonita do mundo. Eu gosto do inglês e o que digo aqui é sem desprimor. O problema está no português”, frisou.

Presença habitual nas escolas portuguesas, Madeira Mendes diz ser frequentemente questionado pelos mais jovens sobre que língua externa se deve aprender primeiro. A sua resposta é perentória: “Digo sempre que é importante aprender inglês e espanhol, mas para mim é ainda mais importante que aprendam uma outra, o português, que é uma língua muito mal aprendida”.

Para o orador, “uma língua é um organismo vivo” e deve evoluir, não adiantando, por isso, “remar contra a maré”. Trata-se também “de uma forma de identidade”, pelo que “se a tendência geral da humanidade fosse falar a mesma língua, há muitos milénios que já o estava a fazer”.

No caso da língua portuguesa, “é preciso fazer um esforço para mantermos a nossa identidade”. Sei que é difícil “arranjar um substituto para ‘software’, mas o mesmo já não acontece com ‘sponsor’, por exemplo. Há que fazer este pequeno esforço”. “No Brasil, por exemplo, utiliza-se o termo ‘marca passo’ e em Portugal prefere-se o ‘pacemaker’. E eu pergunto: qual o termo que faz mais sentido? Nem toda a gente fala inglês, portanto é legítimo não saber o que é um ‘pacemarker’. Agora, se falarmos em ‘marca passo’, é lógico, é um termo facilmente compreendido. Isto é apenas um exemplo de como muitas das vezes os donos da língua fazem pouco para a defender”, rematou.

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