De que está à procura ?

Colunistas

A importância da presidência de Lula da Silva

© DR

Lula da Silva fez um discurso poderoso e assertivo na sua tomada de posse, com a indignação de quem viu o Brasil ser sequestrado pela extrema-direita capitaneada por Jair Bolsonaro, que durante o seu mandato dividiu o país, espalhou ódio, enfraqueceu a democracia e estigmatizou as instituições e espezinhou direitos de vários setores da sociedade.

A vitória de Lula é inegavelmente uma vitória da democracia, que se degradava a olhos vistos, com o apoio da incrível máquina de propaganda de notícias falsas e manipulação da informação para as redes sociais, liderada por um dos filhos de Bolsonaro, que geria aquele que era conhecido como o “Gabinete do Ódio”. Por isso, tem um grande significado a afirmação de Lula “ditadura nunca mais. Democracia para sempre”.

Uma democracia que Bolsonaro nunca honrou e voltou a manchar ao recusar fazer a entrega da Faixa Presidencial, indo acomodar-se numa propriedade de Donald Trump em Palm Beach, se calhar para não ter a mesma sorte que o instigador do assalto ao Capitólio, devido aos muitos processos judiciais que agora poderá enfrentar. Sintomaticamente, só há 37 anos tinha acontecido algo semelhante, quando o último presidente da ditadura, em 1985, João Figueiredo, também recusou entregar a Faixa Presidencial ao seu sucessor, José Sarney.

Lula da Silva tem agora de repor a coesão e a convivência da sociedade brasileira, o que não será fácil, de tal maneira a polarização e o ódio se enraizaram com as ideias extremistas que o bolsonarismo injetou nos seus seguidores, alimentados na bolha das redes sociais, alguns dos quais defenderam indecorosamente até ao fim um golpe militar que anulasse o resultado da votação do povo brasileiro.

Por isso também a vitória de Lula é tão importante para combater a extrema-direita no mundo, com os seus ataques às instituições democráticas, a teatralização da indignação, as ideias estigmatizantes, a obsessão doentia pelas forças militares e de segurança, a colagem aos valores mais retrógrados da Igreja, a negligência em relação ao ambiente, o desprezo pela cultura e a propensão ignóbil para perseguir os partidos de esquerda, como nos regimes fascistas.

Neste virar de página, Lula fez referência a vários ministérios que são, todos eles, um símbolo da luta pela democracia, pela igualdade e pela inclusão, espezinhados por Bolsonaro, como o Ministério da Cultura, o Ministério do Meio Ambiente e o seu objetivo de desmatamento-zero para a Amazónia, o Ministério dos Povos Indígenas, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e da Cidadania ou o Ministério da Mulher.

Além da preocupação com a democracia, o combate à fome e à pobreza fazem parte do eixo central das suas políticas, o que se compreende bem, num país que tem 33 milhões de pessoas com fome e cerca de 100 milhões na pobreza, cerca de metade da população. Por isso anunciou a recuperação e o reforço de vários programas sociais que, durante os seus mandatos, entre 2003 e 2011, ajudaram a tirar 40 milhões de pessoas da pobreza.

Mas a tarefa é ingente e passa também pelo regresso do Brasil à cena internacional, à participação nas instâncias multilaterais, onde se incluem as relações com Portugal e com a CPLP, que durante a presidência de Bolsonaro foram tratadas com total indigência. Basta referir a forma como o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi tratado na cerimónia dos 200 Anos da Independência do Brasil, com uma desconsideração inaceitável, que nem nos protocolos mais negligentes seria admissível.

Entretanto, em termos de relacionamento bilateral, Portugal e o Brasil vão relançar a cooperação de uma forma ambiciosa, tal como ficou já determinado no encontro entre o ministro dos Negócios Estrangeiros João Gomes Cravinho e o seu homólogo Mauro Vieira, a começar pela retoma das cimeiras bilaterais que não se realizavam desde 2016, a fase de alta turbulência na política brasileira e da posterior tomada de posse de Jair Bolsonaro. Domínios não faltam para aprofundar o relacionamento entre os dois países irmãos, mesmo que no passado nem sempre se tenham empenhado suficientemente para honrar a história e a amizade de séculos que nos liga. Portugal, a Europa e o mundo já estavam a precisar de ter de volta ao concerto das nações o Brasil democrático e globalmente empenhado.

Paulo Pisco, Deputado do PS

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA