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Luxemburgo

A costureira portuguesa do Luxemburgo que apostou nas máscaras

Abri em fevereiro e no dia 15 de março o Governo mandou fechar tudo, veja lá a minha vida”, conta a costureira à Lusa, entre duas clientes. Na loja de arranjos de costura, numa galeria comercial na capital luxemburguesa, as encomendas – calças e saias para ajustar, bainhas por fazer – acumulam-se, desde que o confinamento chegou ao fim, mas quando a quarentena foi decretada, Conceição Madeira Martins foi obrigada a fechar a loja.

Com a renda do espaço e contas para pagar, a costureira não desesperou. “Ouvi o primeiro-ministro do Luxemburgo dizer que as máscaras em pano eram uma boa alternativa e que fazem menos lixo e poluição”, conta à Lusa.

A costureira, natural de Seia, decidiu encomendar elásticos e tecidos pela internet, “da China, da Bélgica, de vários sítios”, e pôs mãos à obra. “No início até vinha com medo, porque não havia ninguém nas ruas, mas lá vinha e fechava-me aqui a fazer as máscaras”, recorda.

A ideia do leão vermelho, símbolo da monarquia, muito popular em competições desportivas no Luxemburgo, foi de uma vizinha na galeria comercial: “Você podia fazer máscaras com o leão, porque os luxemburguesesgostam muito disso”.

“Eu contactei com um senhor português que conheço, que faz os bordados com máquina, e lá começámos nós com esta aventura”, diz a costureira.

Depois, foi o “boca a boca”, com as máscaras bordadas com o leão vermelho a tornarem-se um chamariz, e nem o preço – 20 euros – demove os clientes.

“Houve um senhor que me encomendou várias e me disse que ia dar uma ao príncipe Guilherme [herdeiro da coroa do Luxemburgo]”, conta. “Outra senhora comprou três e disse que uma era para oferecer ao primeiro-ministro luxemburguês”.

“Se lhas deram ou não, isso já é outra história. Eu tenho andado atenta a ver se os vejo com elas”, diz Conceição, a rir.

O leão vermelho (‘Roude Léiw‘, em luxemburguês) faz parte do brasão da família real do Luxemburgo e é um símbolo muito popular no país. Já houve mesmo petições ao Parlamento para substituir a bandeira nacional pela bandeira com o leão vermelho coroado, e bordá-lo nas máscaras provou ser uma boa escolha: Conceição chegou a fazer algumas com a bandeira tricolor do Luxemburgo, mas “vendem-se pouco”.

Atrás do leão vermelho vieram outras ideias: houve quem começasse a pedir-lhe máscaras com bandeiras de outros países, símbolos de clubes de futebol e mesmo o logótipo de empresas bordado, para oferecer aos clientes. “Tenho uma imobiliária que me mandou fazer 300, uma lavandaria, um cabeleireiro… Faço o que me pedirem”.

Num dia bom, Conceição, conhecida como São, consegue fazer “60 a 70 máscaras”, e foi graças a elas que a emigrante pôde manter o estabelecimento.

“O mês de maio posso-lhe dizer que foram as máscaras que me salvaram”, conta. “Entretanto comecei a abrir [a loja], porque as pessoas já podiam andar na rua”, e agora “as coisas estão a correr bem, há clientes que vêm todas as semanas”.

Conceição interrompe a conversa para atender uma cliente que vem buscar uma máscara encomendada com a bandeira espanhola. “É para enviar para Espanha, porque eu acho que aqui no Luxemburgo devíamos usar a do país que nos acolhe”, explica a espanhola à Lusa.

Conceição Martins, com 52 anos, chegou ao Luxemburgo em 2008, dois anos após o marido, depois de terem sido obrigados a fechar uma fábrica de malhas em Seia, quando o maior cliente fechou portas. “Não foi fácil. Eu cheguei a arranjar trabalho em Manteigas e não conseguia ir para lá, porque não tinha dinheiro para meter gasóleo no carro”, recorda.

Com três filhos, muitas dívidas e a renda de casa para pagar, o casal acabou por decidir tentar a sorte no Luxemburgo. “Vim para aqui com 40 anos começar uma vida nova, sem nada. Foi tão difícil que você nem imagina”, diz.

A portuguesa fez cursos intensivos de francês e trabalhou como costureira em vários estabelecimentos. Este ano, decidiu abrir por conta própria. “O nome da loja é ‘Coeur de Couture‘ (coração de costura), porque tudo o que eu faço, faço com coração”, explica.

Apesar do arranque difícil, Conceição está otimista e as máscaras têm ajudado, com mais e mais pessoas a fazerem pedidos personalizados.

“Tive uma senhora que veio cá pedir-me seis máscaras com fecho. Entretanto já veio pedir mais. O que as pessoas pedem, é o que a gente faz”, diz.

E já pensou em fazer com a bandeira portuguesa, num país com tantos emigrantes portugueses? “Tive hoje o primeiro pedido, duas máscaras para oferecer”, conta.

 

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