Tinha 6 anos e gostava de acompanhar o meu avô. Ele misturava-se com os animais, brincava com os cães, tomava conta deles com tal zelo que eu sentia o carinho como se fosse meu. Naquele dia de verão de S. Martinho, num Novembro aberto, ele levou o rebanho para o imenso pasto onde brilhava a erva verde salpicada da geada. Logo se apercebeu que uma das ovelhas tinha dificuldade em andar e dobrava-se sobre si.
– Vês, temos esta jeitosa doente… Que chatice! Tem os cascos moles – E sentou-se junto ao animal, tocando-lhe no corpo com mãos experientes.
– E agora Vô?
Ele silenciou-se um momento. Acariciava a ovelha com ar pensativo. E eu sentia que ele vivia a dor dos animais como um rasgo na normalidade da sua vida.
– Agora é tratá-la com medicamentos e afeto.
A palavra era nova para mim e nem sei bem porquê associei a situação à ultima constipação que me apanhara.
– E o afeto vem em xarope, Vô?