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A vida é o que vemos nela

Por vezes, dou comigo a pensar que podemos ter tudo e sentir que não temos nada, da mesma forma que podemos ter pouco e parecer que somos os reis do universo por sentirmos que temos tanto. O que nos define e o que define a nossa vida não é a quantidade de bens materiais que conseguimos juntar ou armazenar. Aquilo que diz o quão felizes somos ou a felicidade que conseguimos trazer para os nossos dias tem pouco a ver com a quantidade do que temos, mas com o que essa quantidade representa para nós.

Eu posso ter a profissão que sempre desejei, posso ter uma vida financeiramente desafogada, posso ter o carro dos meus sonhos e, ao mesmo tempo, sentir que não tenho nada, pois mesmo que tenha tudo o que sempre quis, posso continuar a sentir-me irrealizado, insatisfeito, vazio e só. Por outro lado, posso ter muito pouco aos olhos da sociedade, uma profissão difícil, mal remunerada e sem prestígio social, uma casa muito simples e sem luxos, uma vida aquém daquilo que normalmente se espera quando se criam sonhos e, mesmo assim, contra todas as expectativas, sentir-me cheio e agradecido. Sentir que tenho tudo o que preciso para ser feliz e sentir realização em cada um dos dias da minha vida, sentir-me um verdadeiro afortunado.

Por incrível que possa parecer, apercebemo-nos que estas situações paradoxais e, se calhar, para muitos, ilógicas e irreais são muito comuns nos dias que correm. E, se pensarmos um pouco, não é assim tão difícil de entender, na minha opinião. Isto deve-se sobretudo a dois principais fatores. Em primeiro lugar, e como já tive oportunidade de referir noutros posts, temos as nossas prioridades completamente trocadas. Talvez fruto de uma educação pobre e parca, talvez consequência de termos crescido numa sociedade com os valores virados do avesso, é-nos tremendamente difícil perceber o que é realmente importante, aquilo que realmente conta para a nossa vida. Em segundo lugar, e o que realmente me levou a escrever este pequeno comentário, a vida é realmente aquilo que decidimos ver nela, o que desejamos realmente para nós. Sim, sei que não estou a ser claro no que digo, mas da mesma forma que nem tudo é fácil de perceber, algumas coisas também são difíceis de explicar. Por isso, vou recorrer a ajuda alheia para me tentar expressar melhor. Pois bem, como diz o meu caro Fernando Pessoa: “A vida é para nós o que concebemos dela. Para o rústico cujo campo lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois temos que fundamentar a realidade da nossa vida.”

E era exatamente aqui que eu queria chegar, temos de ser inteligentes ao ponto de saber o que realmente nos irá fazer felizes, aquilo que nos trará realização pessoal plena e total, fazer as escolhas certas, procurar aquilo que deve ser procurado. Se esgotarmos as nossas energias em lutas fúteis e sem significado, até poderemos sair em ombros, como vencedores, mas vamos acabar por sentir a mesmíssima sensação que sentiríamos se tivéssemos perdido.

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