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Uma proposta indecente

Após uma longa viagem, chegámos finalmente a Jaipur.Como já passava do meio-dia, decidimos almoçar antes de uma breve visita pela cidade.

Entrámos num restaurante local e optámos por escolher o mesmo prato que o nosso taxista.

Insisti que não queria picante na comida, pois esta especiaria, tão amada pelos nativos, já não me cativava de todo.

Depois de alguns dias em solo indiano, tinha-me convertido num abstémio, perante esta especiaria tão preciosa para estes autóctones.

Mal nos trouxeram as entradas, esbocei um pequeno sorriso, pois tinha à minha frente um pires com cebolas, limão e sal.

Passado pouco tempo, chegou o prato principal. Apesar de ter uma boa apresentação, a comida era demasiada picante. Pedir com ou sem picante, não adiantava de nada.

O nosso condutor, o Gishô, comia aquilo “na boa”, enquanto eu e a minha colega lutávamos contra o picante.

Após o almoço, parámos num pequeno estabelecimento para comprar tabaco. Perguntei pelo preço. Eram 40 rúpias. Quando olhei para o maço, estava escrito 35. Apontei para o preço e mostrei ao rapaz. Ele escreveu numa folha 35 mais 5, mas eu insisti que não iria pagar nem mais uma rúpia, até ele me vender o maço pelo preço certo.

Nunca na minha vida tinha refilado tanto num país.

Uma constante deslealdade por parte de toda a gente que não me agradava nada.

É óbvio que estes autóctones não me inspiravam confiança alguma.

De seguida, o taxista parou o carro numa casa de massagens. Como não estávamos minimamente interessados, levou-nos imediatamente para o hotel, concluindo com a seguinte frase: “Por hoje já está!”

Eram apenas três da tarde. Estava a ficar irritado com tudo aquilo! Na altura tinha dito na agência que queria ficar apenas um dia na cidade de Jaipur e eles disseram que era muito pouco tempo.

Claro que, desta maneira, um dia só não chegava. Como estava de férias e não me queria chatear, tentava virar a página e esquecer mais um capítulo que não me agradava.

Como no hotel era tudo bastante caro, nesse mesmo dia saímos com o taxista e comprámos uma garrafa de whisky e cerveja.

Coloquei as garrafas dentro da mochila e entrei no Hotel.

Apesar de algum desagrado, convidei o motorista a juntar-se a nós. Estivemos toda a noite na conversa e a beber.

Com os copos, ele começou a ficar bem mais simpático e descaiu-se: disse-nos que, se no dia seguinte nos pedissem dinheiro, para dizermos que tínhamos tudo pago.

Do nada, quando demos conta, estava ele a chorar e a dizer “please, please”.DSC03874(1)

Perguntei o que se estava a passar e fiquei espantado, e ao mesmo tempo incrédulo, com a resposta. Queria dormir connosco no quarto.

É óbvio, que nem eu, nem a minha colega achámos muito piada à proposta dele.

Não fazia qualquer sentido fazer a vontade ao taxista que tinha onde dormir.

Como ele já nem queria sair do quarto, decidimos ir jantar para que ele saísse do quarto.

Subimos até ao piso onde serviam as refeições e, quando descemos, estava ele à nossa espera em frente à porta do quarto.

Tudo isto era demasiado confuso para a minha cabeça. Nunca tal me tinha acontecido na vida, que um guia ou motorista quisesse dormir connosco no mesmo quarto.

Ainda por cima, num país onde os homens “se atiravam” sem qualquer problema ou vergonha à minha colega, mesmo à minha frente.

Sinceramente, admiro imenso a frontalidade das pessoas mas, neste caso, condeno a lata descomunal e depravada  do nosso motorista.

Com tal descaramento, também eu tive de bater o pé, dizendo com toda a frontalidade que jamais ele iria dormir connosco.

Despedimo-nos do motorista e ele lá foi embora, cabisbaixo .

Em certos momentos, ao longo desta viagem, desejava acordar com amnésia para nem me lembrar de alguns episódios absurdos e nada simpáticos que vivemos.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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