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Uma mãe como poucas

Genciana é a caçulinha querida de velho e austero médico do interior. É ainda adolescente. Adolescente, robusta e fogosa. O rosto, é trigueiro; a pele: macia e sedosa.

Mudara-se, recentemente, para os subúrbios, para casa bem construída e bem espaçosa.

O pai, jaz no leito, vítima de doença, que não costuma perdoar.

Estirado na cama, o velho médico, é um homem triste, desolado. A barba escurece-lhe e azula-lhe as faces amarelecidas. Desanimada, a mulher, olha-o angustiada. Está compungida. O doente parece dormir, mas pressentindo gente, descerra levemente as pálpebras envelhecidas.

Circunvaga, desalentado, a vista pelo quarto, que permanece em repousante penumbra, e, volvendo os olhos embaciados, para a esposa, numa expressão dolorosa, profere apagado e triste sussurro:

– “ O que será de meus filhos!… Meu Deus… Tão novos… e tão desamparados!”

A mulher consola-o. Incute-lhe ânimo. No íntimo, sabe, que é caso quase perdido. Só um milagre… mas milagres raramente acontecem.

Está desolada. Receia ficar só, com um ranchinho de filhos… Ela, que sempre se apoiou no marido, encontra-se na iminência de ficar com escassa pensão, e rendimentos de poucos bens herdados.

Genciana pressente o drama, mas pensa, confia – confia em quê?! Nem ela sabe em quê, – que o pai seja imortal.

Está feliz: tem casa nova e tem quarto novo, que reparte com a irmã.

Genciana tem um primo. O primo Alberto. É um jovem tímido, de olhar vago e triste. Seus olhos castanhos, fulgem, quando está com ela…

Vive longe, muito longe, no litoral; por isso, raras vezes se encontram, raras vezes se vêem.

Este Verão, estando de férias, foi visitar o primo doente, que tanto estima, e tanto o estima.

Genciana recebeu-o, com os belos olhos castanhos, radiantes de júbilo.

Terminada a curta visita, ao enfermo, ela logo o segura pela mão.

E de mãos enlaçadas, como duas crianças, ambos, galgam, dois a dois, os degraus da escada de madeira, que dão acesso ao andar superior.

Penetram num quarto sombrio, mergulhado em silêncio, onde há duas camas de ferro, esmaltadas a branco, cobertas de alva colcha de fustão:

– “Este é o meu quarto!…” – informa a menina, emocionada, de olhos saltando de alegria.

Alberto estaca. Cresce-lhe a emoção. Passeia calmamente a vista: ao lado de cada cama, há mesinha de cabeceira, com porta-retrato, em cada uma.

O quarto é espaçoso. Tem poucos móveis, e recebe a luz, de ampla claraboia.

E sempre de mãos bem enlaçadas, sentindo o agradável contacto da pele juvenil, Alberto, mira-a com carinho; e imensa onda de ternura alaga-lhe a alma perturbada.

Seus olhos brilhantes, ensombrassem. Em breve; quando? – só Deus o sabe, – será órfã. Órfã de pai. Jamais receberá o carinho paterno, a protecção de quem que tanto lhe quer…

E enxurrada de nebulosos pensamentos, fervem-lhe na mente excitada:

“Como gostava de ajudar! …”

“Mas, como?”

“Aceitariam ajuda? Certamente que não…”

…………………………………………

O tempo passou… O tempo tudo apaga. Tudo esquece…

Até amizade! Até amizade!

Hoje, Alberto e Genciana, estão velhos: ele, vive no litoral, sofrendo os tristes achaques da velhice; ela, no interior, numa estância, em constante labuta, cuidando dos filhos.

O que o velho médico tanto temia, não aconteceu.

A mulher cuidou das crianças, buscando forças, que não conhecia. Privou-se de muito, para que nada lhes faltasse.

Quantos vestidos gostaria de ter comprado, que não comprou?

Quantas viagens gostaria de ter feito, que não fez?

Quantas horas de aflição passou, em silêncio?

Quantas lágrimas derramou, na solidão do seu quarto de viúva?

Só ela e Deus é que sabem. Foi Mulher e Mãe exemplar. Mãe, com poucas…até morrer…

O que descrevi, é verídico. Passou-se no Nordeste. No árido Nordeste brasileiro; em pequenina cidade sertaneja, perdida nesse imenso Brasil.

Que Deus se compadeça dessa Mãe.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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