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Tonga: um guia engraçado

No meio do Oceano Pacifico existe um país que muitos desconhecem.

Chama-se Tonga e pertence à Polinésia.

Este arquipélago composto por 170 ilhas é um autêntico paraíso para os amantes de destinos pouco explorados. Desde a sua cultura às suas praias virgens, esta viagem foi sem dúvida uma experiência bastante diferente das anteriores.

Assim como muitos de nós nunca ouviram falar deste país, também eles sentem o mesmo em relação a Portugal.

Praticantes de Rugby, nunca ouviram falar de Ronaldo, que muitas vezes acaba por salvar a nossa pátria.

Apesar do reino de Tonga não ter qualquer tipo de relação com Portugal, o nome do Oceano onde se encontra, sim.

Em 1521 o navegador Fernão de Magalhães comandava uma expedição espanhola e descobriu no Sul das Américas uma entrada para este mar, acabando por batizá-lo de Oceano Pacífico, pela sua calma e sossego.

Chego a Nucualofa, capital do Tonga e da sua ilha principal Tongatapu, e mal saio do aeroporto, sou recebido com música.

Alguns nativos cantavam enquanto outros tocavam ukelele.

Uma receção musical e colorida.

À minha frente, um arco-íris de cores na forma como eles se vestiam.

Os homens usavam camisas bastante coloridas floreadas, enquanto as mulheres completavam este magnífico puzzle com saias feitas de palha.

O ambiente era sem dúvida caloroso.

Tinha reservado uma pousada e reparei que um senhor tinha uma placa com o nome da mesma pousada.

Aproveitei a boleia e fui até ao hostel.

Quando cheguei, os donos disseram-me que estava cheio e que me iriam levar para outro sítio.

Recusei esta proposta, pois tinha feito uma reserva antecipada e sabia que a partir daqui estava perto do centro.

Fiquei uma hora à espera até me arranjarem finalmente uma cama num dormitório.

Nesse tempo de espera conheci um fulano bastante engraçado.

Era guia turístico e fazia excursões com o seu carro.

Do pouco que tinha lido sobre Tonga, sabia que era praticamente impossível arranjar transportes públicos, por isso aproveitei a oferta.

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No dia seguinte, lá estava o tal guia à minha espera.

Entro no carro e a primeira coisa que me diz é que não preciso de colocar o cinto de segurança.

Começo a rir e ele explica que em Tonga os condutores andam tão lentamente que não é obrigatório colocar cinto, assim como não é proibido falar ao telefone.

A verdade é que a cada instante ele atendia o telefone, estivesse a polícia ao lado ou não.

Apesar de a capital ser bastante pequena, é onde ainda se consegue ver algum movimento.

Por vezes cruzávamo-nos com algumas crianças que vinham da escola, mas sem ser isso, parecia estarmos numa ilha completamente desabitada.

Ao longo de toda a costa havia praias desertas e paradisíacas, acompanhadas por estranhas rochas escarpadas, que por sua vez formavam piscinas naturais.

Tonga também é conhecida pelo avistamento de baleias.

Muitos turistas deslocam-se a esta ilha para poderem observar este fenómeno, nas muitas excursões que fazem de barco.

Ao longe conseguíamos ver, por vezes, uma ou outra baleia a saltar no mar.

Mas o mais incrível, e o que eu não estava mesmo à espera, era uma presença louca e constante de cemitérios ao longo do caminho.

Nunca tal tinha visto na minha vida.

Alguns mesmo ao lado das casas ou nos jardins, enfeitados com colchas e bordados.Eram inúmeros, por todo o lado.

O guia era bastante simpático e ao mesmo tempo um cromo bastante engraçado.

A verdade é que eu desatava às gargalhadas com o pensamento e o raciocínio deste fulano.

Tinha trabalhado nos Estados Unidos, mas tinha sido por muito pouco tempo.

Disse que aquilo não era para ele, que o obrigavam a trabalhar todos os dias, e resolveu voltar para Tonga.

Falava pelos cotovelos e a conversa ia sempre dar ao mesmo, mulheres.

Sempre que via uma rapariga na rua apitava e acenava. A certa altura disse-me que uma rapariga que estava numa paragem de autocarros tinha olhado para mim.

Perguntou-me se eu a queria conhecer, ao qual eu respondi que não.

E depois rematou a conversa deste jeito. “Sabes, ela está à espera do autocarro para ir trabalhar, mas se ela te achar piada, vai já atrás de ti e só vai trabalhar no dia seguinte!“

Pelo que percebi, os nativos apenas vão trabalhar quando têm vontade.

Umas autênticas preguiças, estes autóctones.

É óbvio que com este tipo de raciocínio e lógica, eu desatava às gargalhadas.

Quando tal, perguntou-me quais eram as mulheres europeias mais atiradiças.

Sem pensar bem, disse ao acaso que eram as holandesas, só para ele se calar.

Mas o que é que eu lhe fui dizer!

Ficou chateado com ele próprio porque na semana anterior tinha tido umas holandesas a fazerem o mesmo percurso e não sabia disso.

A partir daquele momento nunca mais se calou e até queria fazer um desvio para a pousada só para saber se tinha alguma holandesa para juntar-se à excursão.

A verdade é que este menino respirava mulheres por todo o lado.

Sendo esta ilha bastante pequena, percebi que a certa altura não havia mais nada para visitar. Então ele enfiava o carro por caminhos estreitos de terra batida com altos pedregulhos, só para render o tempo da excursão.

Por vezes chegávamos a lugares sem qualquer saída e com estradas em muito mau estado. O carro parecia uma autêntica catana que abria caminho pela selva.

Creio ter sido a primeira vez que senti pena de um veículo.

Questionava-o, se ele conhecia o caminho, e ele respondia que eu era um sortudo, porque nunca nenhum turista tinha passado por ali e andava a explorar lugares novos para futuros passeios.

A verdade é que por vezes encontrávamos praias completamente paradisíacas.

Enquanto me deliciava a tirar algumas fotografias, ele não parava de dizer o mesmo. “Já sei onde trazer as holandesas da próxima vez!”

Apesar deste fascínio súbito pelas holandesas, ele era bastante atencioso.

Quando lhe disse que me apetecia beber uma cerveja, sempre que via alguém na estrada perguntava onde poderíamos comprar.

Parávamos em todas as tascas ao longo do caminho, mas nada. Era praticamente impossível encontrar cerveja, sem ser na capital.

A única vez que vimos cerveja, ou melhor, garrafas de cerveja e eram às centenas, não tinha sido em nenhuma tasca, barraca, café ou supermercado. Mas sim, num cemitério.

Vazias, é certo, mas a enfeitar inúmeras campas mesmo à beira de uma praia exótica.

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