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Teoria das Cordas

Pudesse eu serpear até à dobra do universo
vibrar na frequência certa dessa corda
onda curta, ora comprida
força fraca, força forte
escapar à gravidade
entender tudo num só esgar
o celeste e o quântico
a matéria e a energia invisíveis.

O colar dos cosmos
é um novelo em perpétuo desalinho,
eco riscado ou perfeito
de consonâncias e de espelhos,
ser assim eu aqui e em toda a parte
como a partícula subatómica de Pessoa.

A vida é, na verdade, uma serpente
que nasce e renasce eternamente
num movimento perpétuo
como se o bordão de Esculápio
se transmutasse em espiral de Arquimedes,
como este Sol perseguido por pérolas
gira em torno da galáxia,
e os buracos negros e os quasars,
o búzio de Fibonacci, a chave de ouro
da dupla hélice, o chão primevo
erguendo-se para apanhar a maçã,
o vórtice que fecha abrindo-se
e progride assim por afastamento
e aproximação, viajante interminável.

Assim é o meu destino
Inexistente primeiro,
e no instante zero, de repente,
querendo ser luz mas insuflando-se de vácuo
anos-luz de ignorância e de nada,
círculo vicioso pretendendo-se virtuoso,
parafuso, ciclone, olho, espuma nos dentes.

A minha vida, buraco de verme
mas sempre no mesmo lugar,
os dias afunilando-se inanes e absurdos
e eu afundando-me em coriolises
de anéis saturninos e profusos
continuo insistindo na destilação,
na dissecação e na voragem da alma
como se apenas isso pudesse salvar-me,
esse fotão sápio que se sonha carne
para alcançar não-sei-quê
e acaba sempre desfeito em pó.

Mas tudo isto afinal que importa
se a teoria das cordas não prevalecer
e esta língua estará morta
daqui a dez mil anos e já ninguém me ler.

JLC12042018

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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