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Sócrates contra Sócrates

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Depois das peregrinações a Évora, agora o repúdio, com a mesma facilidade e convicção. Ali revelaram-se. Aqui definem-se. António José Seguro tentou a rutura com um certo consulado de José Sócrates. Não conseguiu, porque em 2014, esse consulado feito de muita gente – e alguns interesses – foi mais forte.

Agora, António Costa tenta fazer de conta que não teve nada que ver com José Sócrates. Também não conseguirá, pela simples razão de que, exceção feita ao antigo líder caído em desgraça, quem está no poder desde 2015 é basicamente quem esteve com José Sócrates até 2011 à frente dos destinos do país e do PS. Foram os seus ministros, secretários de Estado e assessores. Foram os parceiros nas direções do partido. Foram quem lhe amparou cada passo, quem aplaudiu cada ideia, quem votou cada decisão. Quem lhe adulou o ego e exacerbou qualidades. Foram os coautores das parcelas políticas desse percurso. Alguns, foram até quem não poupou a justiça, quando intervindo, tentou ser cega.

Foi António Costa quem discursou em campanha, com José Sócrates ao lado, dizendo que “o PS é um partido que se honra de toda a sua história”.

Como foi José Sócrates, em 2016, quem, tendo pela frente Pedro Silva Pereira, Mário Lino, Paulo Campos ou Capoulas Santos, na sessão de apresentação do livro “O dom profano – considerações sobre o carisma”, sublinhou: “A vossa presença tem um significado político”.

Foi Carlos César quem asseverou em 2011 que “José Sócrates sempre governou com grande sentido patriótico”.

E era João Galamba que em julho de 2010 perguntava: “uma dúvida; já alguém se retratou das calúnias a Sócrates”?

Exatamente por isso, escutar agora precisamente o líder da bancada parlamentar socialista dizer que “o PS sente vergonha de Sócrates” e Galamba a tentar o homicídio político do criador, reproduzindo a apreciação, revela tanto, mas mesmo tanto, que roça a caricatura. As lições de Pilatos ou Judas são velhas dos tempos bíblicos.

Em compensação, o essencial daqueles que antes combateram José Sócrates, preservam um silêncio realmente magnânimo, recusando as vantagens fáceis do momento em que apedrejar com ganho de causa revanchista lhes resultaria muito fácil.

O contraste afirma com eloquência como por vezes, na política, as melhores escolhas podem acabar preteridas pelos piores motivos. Também como frequentemente as amizades se forjam com maior consistência por outras paragens.

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