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Que seria dos espertos se não fossem os burros

Quando se desce à rua, seja em África, Venezuela, Brasil, nas alas do governo ou da oposição, tem-se a impressão de vivermos numa sociedade doente e de atmosfera infectada. Nela, frequentemente, a alegria de uns constitui a tristeza de outros e o que sobressai na população é a tosse da acusação e da queixa.

Em sociedade o que mais conta é a luta de interesses de grupos numa estratégia de afirmação de uns contra os outros.  O povo é o tapete onde os interesses se jogam e realizam. Cada grupo organizado puxa na corda a que se agarra e o que passa a valer é a corda e o que ela arrasta, por isso a sociedade, como todo, pouco adianta.

Uma mentalidade cultural baseada em vencidos e vencedores legitima o direito do vencedor a desrespeitar o vencido que se encontra sempre na massa anónima, que é povo repartido!

O povo repartido na perspetiva da sua parte acusa a injustiça que vê da outra parte. Daí não poder haver revolta popular contra o sistema político que apenas se reveza na luta da insatisfação repartida e na consequente distribuição da presa à clientela vencedora (Esta parece ser, por enquanto, a lei do progresso!).

É legítima a exigência de que se mudem as regras de jogo na luta social e política, mas ineficiente porque o poder vive do princípio da divisão “Divide se queres imperar” e isto porque o todo é feito de partes (grupos que se afirmam numa dinâmica do contra, de interesses contra interesses e por isso não ganha o todo, mas sim o interesse da parte mais forte).

A alternativa seria diminuir a burrice de maneira à esperteza se ter de transformar em inteligência. Mas também a inteligência pressupõe ver mais longe e como tal passa também ela a viver e usufruir do privilégio do avanço que a caracteriza e que o povo, numa das suas partes, legitima.

A parte que ganha vive do benefício da posição da força de interesses maioritários que a legitimam a explorar o grupo perdedor e ao grupo que perde resta-lhe o apelo à moral e ao barulho da praça. (Cada um parece só ter para dar e receber o que é do outro sem pensar nem prover pelo que é nosso!) Em termos reais o povo é que paga a conta.

Às vezes fica-se com a impressão que o povo (grandeza anónima) funciona para muitos espertos como uma offshore.  Um exemplo perfeito do que acontece a nível de economia temo-lo nas Offshores (Panama Papers: aprender a roubar em cinco minutos) onde o profissionalismo da corrupção e do roubo é institucionalizado pelos bancos, com a bênção da política (onde se lava o dinheiro, se cria anonimidade e os vestígios dos criminosos são safados).

O sistema favorece os espertos e os corruptos, mas esse sistema é fruto de um povo que gera o governo e o possibilita do nível de corrupção ou de transparência que merece (por isso também há grande diferença entre os povos e os governos das diferentes nações!).

Para a prática da corrupção pressupõe-se a existência de energia criminosa mais ou menos latente em cada pessoa. Em geral, a corrupção de cima é mais evidente e mais execranda que a de baixo, mas a caracterização da diferença depende também do caracter e da possibilidade que o grau do posto proporciona. Também “a oportunidade faz o ladrão”! A diferença qualitativa do corrupto de baixo da do corrupto de cima vem do grau de consciência, da necessidade e das consequências que provoca (um talvez roube para matar a fome e o outro para esbanjar, com a fome dos outros).

Em nome da generalização se condenam as acusações placativas aos políticos e em nome do povo enriquecem os predadores da sociedade. O político corrupto além de corrupto é traidor… além do compromisso de servir o bem-comum e de ser exemplar, ele tem o poder e o dever de mudar as coisas a um nível que a pessoa privada não tem.

As regras de jogo são feitas por espertos para os espertos que as usam sendo justificados por um povo plateia que estimula o jogo. Eles têm o proveito e o povo fica com a satisfação de ir vivendo ao sol do debate sobre moral. A esperteza junta-se à burrice na anonimidade! Que seria dos espertos se não fossem os burros!…

Na “matilha„ não importa a dignidade humana o que conta é o osso.

O problema não está na carroça, mas sim nas “bestas”! “Ai dos vencidos”!

António da Cunha Duarte Justo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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