Poesia é água a correr nos regatos
Um caldo verde com chouriço e vinho
É um homem idoso a bater retratos
Uma criança a cheirar o rosmaninho.
Poesia é ver um rapaz a conduzir as vacas
Ver um por-de-sol, cheirar a maresia
Observar um bebé correndo de gatas
E saborear o lindo canto de uma cotovia.
É deitar-se ao sol, também suportando o vendaval,
É manter uma porta aberta no entanto secreta
É dar um sorriso cândido e muito natural
É usar a caneta, o caderno, e a cama do poeta.
Poesia é o bicho-da-seda a tecer nos brocados
É admirar uma mulher pujante e socrática
Mas nunca ficar com os olhos deslumbrados
E procurando a poesia e acaricia-la até na via láctea!
Poesia e sempre quando observamos as coisas pequenas
Simples, complexas ao nosso redor em toda a criação
Ver a diligencia de um carreiro de formigas serenas
E pasmar ao ver seu instinto e como sábias elas são.