É tradição do nosso povo macaquear tudo que vem de fora. O complexo de inferioridade é tal, que no século XIX, e início do século XX, era elegante, não só falar francês, mas até casar com uma francesa!
Os nossos janotas, filhos de famílias “bem”, orgulhavam-se de namorarem jovens parisienses. Era elegante… e a bacoquice nacional, admirava e respeitava.
Muitas das jovens parisienses, que conseguiram unir-se, em matrimónio, com artistas, ou ingressarem em famílias tradicionais, não eram, como se pensava, meninas educadas e instruídas; mas costureirinhas e rapariguinhas de famílias imodestíssimas.
Não é, portanto, de admirar, que Daniel David da Silva, poveiro de gema, quando foi supervisionar a cervejaria da “Regaleira”, no Porto, resolvesse apresentar prato, apimentado, para acompanhar a cerveja, de “origem” francesa.
Como tinha trabalhado em França e em bares belgas, utilizou os conhecimentos adquiridos, e idealizou manjar, que obteve grande sucesso.
Mas, era preciso batizar o pitéu. Que nome havia de se pôr ao prato?
Depois de muito matutar, resolveu chamá-lo de “Francesinha”; criando, assim, a ilusão que a comida era de origem francesa.
Estávamos em 1953. Nessa época ainda se admirava a França e os franceses; do mesmo modo, como hoje, se copia tudo o que vem da América.
A “Francesinha” foi um sucesso. Logo bares e restaurantes tentaram confeccionar a apetitosa iguaria, que se pensava ser francesa.
Daniel David da Silva, viria a falecer com oitenta e quatro anos, ficando, para sempre notabilizado na gastronomia portuguesa… porque teve a esperteza de dizer que a sua especialidade, veio de França!
Infelizmente, continuamos – juntamente com outros latinos, – a cair de cócoras perante tudo que se usa e se fabrica lá fora, além-fronteiras.
Agora, até os nossos garotinhos rabiscam os muros em inglês… com frases de amor… e obscenidades!