Os poetas escrevem palavras bonitas que não entendo. Frases bruscas ao meu ouvido pois não me acarinham. Os poetas colocam vocábulos em redoma e eu perco-me no meio deles, porque não os vejo na opacidade do meu olhar bruto. Os poetas fazem magia com os versos e eu permaneço na interdição do entendimento, pois não compreendo o que me querem dizer. Leio quadras em papéis rectangulares sobre manjericos e chego lá. Mas os poemas que os poetas que inventam palavras sobre palavras, deixam-me em aterro. Não sei porque dão tantas voltas para dizer uma coisa simples como quero-te ou estou farto desta coisa. Misturam as palavras com desenvoltura como se escavassem para além do subsolo deixando a terra suspirando. Não os entendo. Mas sei que me entendem e desenham-me nos poemas que não percebo. Os poetas fascinam-me. São seres que não sabem do cavar nos dedos, mas sabem das escavações das frases que doem. Quem os entende costuma dizer que eles abrem feridas no peito e rios nos olhos. Eu fico-me pela terra. Ela escava-me os dias e eu escavo-a porque as palavras nunca me deram pão.