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As irmãs luso-americanas mais famosas da costa leste

Natália e Cidália nasceram em França, nos arredores de Paris, para onde os pais, naturais de duas aldeias perto de Pombal, emigraram nos anos 60, voltaram crianças para Portugal no pós-25 de Abril. Mas depressa Manuel e Albertina entenderam que, se queriam dar às filhas uma educação de excelência, tinham de sair de um país onde o caos pós-revolucionário chegou a deixar Cidália sem professor durante meses. A escolha foram os Estados Unidos, onde tinham família no Maryland. “Viemos para uma cidade chamada Kensington. A minha madrinha fez o sponsorship para a nossa família vir”, conta Cidália, de 49 anos. Chegaram em 1979.

A mais velha das irmãs Luís recorda como durante dois anos – até aos 13 – se recusou a falar inglês. Tudo porque o pai lhe dissera que se chumbasse voltava para Portugal. “Queria chumbar e não conseguia, por causa do sistema americano”, recorda, enquanto saboreia umas torradas. Com apenas 7 anos, Natália, hoje com 45, sentiu menos a mudança. E recorda que, à chegada, os pais só lhes pediram duas coisas: “Que aproveitássemos a melhor educação possível e que deixássemos o mundo melhor do que o encontrámos”, contou ao Diário de Notícias.

Foi o que sempre tentaram fazer, desde crianças, aprendendo com os pais a ética e o valor do trabalho. “A minha mãe é uma força na natureza. É incrível. O meu pai é o humanitário, o filósofo, uma daquelas pessoas que vê o mundo com esperança. Tem quase 77 anos e todos os dias acorda cheio de esperança”, conta Natália. Manuel Luís nasceu em Matos de Ranha, Albertina em Covão dos Mendes, ali perto. Enquanto ele sempre se dedicou à construção, ela foi tendo vários negócios. “A minha mãe é uma serial entrepreneur“, exclama Natália, destacando o espírito empreendedor de Albertina, que teve um verdadeiro aviário com mais de duas mil galinhas, vendeu leite e pintou e vendeu loiça de barro, fazendo toda a família participar aos fins de semana. Foi ainda ela quem ensinou o marido a ler e a escrever.

Chegado à América, Manuel Luís foi fazer o que melhor sabia. Primeiro por conta de outros, mas rapidamente por conta própria, abrindo uma empresa de construção com um sócio. Não correu bem, mudou de sócio e começou outra. Por fim, em 1985 decidiu lançar-se a sós. Ou melhor, com a ajuda de Albertina. Ele andava no terreno a construir estradas. Ela fazia a contabilidade, dando uso às aulas que tivera à noite.

Adolescentes, Natália e Cidália começaram também a ajudar. “Fazíamos orçamentos, aprendíamos muito rapidamente. Aprendemos a negociar”, lembra a mais nova das irmãs Luís, recordando que lá em casa sempre houve liberdade de expressão e quem tinha uma opinião podia apresentá-la, desde que tivesse argumentos para a defender. Na casa dos Luís, além dos trabalhos da escola, havia os “trabalhos da empresa”. Uma vida diferente da de muitos jovens americanos, mas que os pais sempre conseguiram apresentar às filhas com toda a naturalidade. “Só percebi que éramos pobres quando cheguei à universidade. Achava que todos eram como nós. Tínhamos comida e tínhamos roupa. E amor e pais que nos deixavam ter as nossas opiniões”, garante Cidália. Mas na universidade percebeu que “os outros miúdos tinham estado no campo de férias, na vela. E eu pensava: eu fui à lenha, fui à água!”, ri-se agora.

Hoje a M. Luis Construction tem entre 300 e 500 empregados – dependendo da época -, fatura milhões todos os anos, trabalhando exclusivamente em obras públicas. E está num processo de profissionalização. Até porque Natália e Cidália não querem deixar um peso aos filhos – a primeira tem dois, Gabriel, de 13 anos, e António, de 10, e a segunda tem uma, Sofia, de 8. “Se um, ou os três, dos nossos filhos decidir que é isto que quer fazer, ótimo. Vai herdar uma empresa que não precisa dele para funcionar. É um sinal de sucesso.”

Leia mais sobre a história das irmãs Luís aqui.

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