De que está à procura ?

Lifestyle

O regresso de Guillermo del Toro a Bruxelas

O realizador mexicano Guillermo del Toro regressou esta quarta-feira como um herói ao Festival Internacional de Cinema Fantástico de Bruxelas (BIFFF) e fascinou a audiência com uma viagem pela sua cinematografia, na qual não faltaram confissões nem canções.

A expectativa para o encontro com a ‘estrela maior’ da 36.ª edição do BIFFF era grande. Os bilhetes, esgotados há dias, voaram das bilheteiras, e hoje, mais de uma hora antes do aclamado realizador mexicano iniciar a sua ‘masterclass’, já uma pequena multidão se aglomerava junto ao Cine 1 do Bozar, o espaço que, por estes dias, acolhe o festival.

A longa espera, vibrante de entusiasmo – a plateia ‘chamou’ Del Toro com palmas compassadas, gritou quando este foi anunciado e explodiu num aplauso apoteótico quando entrou em palco -, valeria a pena: desafiado pelo apresentador, o vencedor do Óscar de melhor realizador em 2018 agarrou no microfone e cantou a ‘ranchera’ “Cielito Lindo”, com o público a acompanhá-lo no conhecidíssimo verso “Canta y no llores”.

Descontraído, o realizador de “A Forma da Água”, vencedor do Óscar de melhor filme de 2018, de “Hellboy”, de “O Labirinto do Fauno”, e um ‘habitué’ neste festival, recordou como começou o seu idílio com o cinema. “Quando era um miúdo, pensava que o cinema era algo que acontecia, não sabia que era uma profissão”, disse, revelando que, um dia, descobriu a câmara do pai e filmou os brinquedos “a matarem-se uns aos outros”.

“Quando o projetei, pensei que era a coisa mais bonita de sempre”.

O amor pelo cinema pegou e levou-o a superar os obstáculos que encontrou num México que olhava para os filmes, sobretudo os seus, com desconfiança, uma atitude que nem a atribuição do Grande Prémio da Semana da Crítica do Festival de Cinema de Cannes ao filme “Cronos” (1993) – “há mais de 30 anos que nenhum filme mexicano ganhava” – mudou.

Del Toro saltitou entre temas, espraiando-se sobre a importância da alquimia nos seus filmes, visível desde o primeiro, “Cronos”, até ao mais recente a estrear, “A Forma da Água”, salientando que o papel da arte é dizer “fuck you world” e que o segredo da imortalidade é não pensar na morte.

“A beleza da arte é que não é permanente. Se fosse, seria triste. Não é permanente, mas é capturada em filme”, pontuou, antes de disparar um novo lema: “Penso que as causas perdidas são as únicas pelas quais vale a pena lutar”.

Verdadeiro herói para uma plateia que o escutou embevecida e muda, sem espreitar o telemóvel ou ceder à tentação das fotografias, o realizador mexicano arrancou gargalhadas ao imitar as vozes de personagens dos seus filmes, incluindo sons de animais e criaturas, ao referir-se ao seu excesso de peso e gosto pela comida, ou ao enumerar serenamente os seus fracassos.

“Houve cinco ou seis vezes que disse que ia deixar o cinema. Por três vezes, enquanto filmava, disse que aquele era o meu último filme, incluindo em ‘A Forma da Água’”, confessou.

O mexicano, de 53 anos, assumiu que as críticas negativas e o insucesso de “Crimson Peak” (2015) lhe partiram o coração.

“As pessoas pensam que não, mas magoa-nos mesmo”, completou, antes de refutar as críticas daqueles que o acusam de só saber fazer obras de cinema fantástico: “Não critiquem uma videira por dar uvas. Passaram 25 anos, já deviam ter percebido que não deviam procurar-me, caso não gostem de uvas”.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA