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O miúdo (conto quase infantil)

O miúdo, nascido e criado entre montes e vales, sem contacto com gente evoluída era, no entanto, reguila, ladino, esperto e com muita imaginação…

Levantava-se cedo e, mesmo antes de almoçar e fazer a caminhada para a escola, dava uma voltinha com o seu inseparável companheiro Nero – um elegante rafeiro e às vezes com o gato felpudo.

Os três corriam pelos campos de cultivo em perfeita harmonia: nem o cão perseguia o gato, nem o gato se interessava particularmente pelos ratos, apesar de os haver gordos, lustrosos e em quantidade.

O miúdo cresceu entre animais. Para além dos já referidos companheiros de brincadeira, no curral tinha mais de meia centena de ovelhas (dois carneiros – o guia do rebanho e o procriador). Não havia galinheiros, mas as galinhas abundavam à solta pelos campos, com muitos pintainhos atrás. Havia ainda duas vacas ainda novas, mas vacas, patos, coelhos e uma cabra atrevida que tinha como principal objetivo comer as couves que bordejavam os campos de cultivo ou os gamões das videiras…

O miúdo era feliz também no meio de tantos pássaros de todas as cores e tamanhos. Passava horas observando o labor das abelhas, besouros, formigas, borboletas e até joaninhas!

O único problema do miúdo era o mal-encarado cão do vizinho, que parecia existir para lhe infernizar a vida. Corpulento, feroz e sempre pronto a atacar, não perdia a oportunidade para o perseguir como um caçador persegue um inofensivo e vulnerável coelho.

De resto, gostava de todos.

O felpudo, no inverno, fazia rom-rom nas suas pernas e aquecia-lhe os pés; o galo era o seu despertador; a vaca “Cabana” deixava que lhe tirasse o leite em pleno campo para ser bebido ali mesmo, ainda morno.

Mas do que ele gostava mais era dos animais pequeninos, daqueles que se podem esmagar sem piedade: as formigas e as próprias abelhas bravas, amarelas e lindas, que só picavam se fossem atacadas. Deixava que elas subissem para as suas pequenas mãos e atirava-as ao ar para que voassem em liberdade!

Na sua aldeia já não há animais ditos ferozes. Nem um lobo faminto desce ao povoado no inverno e os cães de raças perigosas não são queridos nestas paragens.

O miúdo ama os animais, sobretudo os mais pequenos, aqueles que lutam pela sobrevivência em relação a outras espécies e que, pela sua pequenez, são vítimas da falta de sensibilidade dos humanos.

           

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