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O forte de Amber

Quando acordámos estava o nosso taxista com um fulano à nossa espera. Disse que era guia e que nos iria acompanhar. Malgrado alguns episódios menos bons e sem qualquer nexo, tentámos apagar tudo da nossa memória e aproveitar ao máximo os poucos dias que ainda sobravam.

Ansiosos para visitar o majestoso forte de Amber, no caminho o guia disse que teríamos de pagar trezentas rúpias. Respondi que já tinha tudo pago, o que não era mentira nenhuma.

No dia anterior, o nosso taxista, que já estava com os copos, também nos tinha avisado que se alguém nos pedisse dinheiro, para não pagarmos, pois seria apenas mais um extra para o guia. Nesse momento, falaram os dois em indiano e o nosso condutor virou-se para nós, dizendo que teríamos de pagar a entrada para o forte. Com tal resposta e tal lata da parte do taxista, fiquei possesso perante aquele descaramento.

Ele já nem se lembrava que, com os copos, nos tinha avisado para não pagarmos mais nada. Com os nervos à flor da pele, explodi e resmunguei com eles.

A minha colega tentava apenas acalmar-me, mas eu já nem queria saber de nada. Com tudo pago, estes fulanos tentavam roubar-nos descaradamente.

A cada passo, estes nativos davam cabo da minha paciência. Para além da entrada, também já falavam do valor que tínhamos de pagar pelo elefante, que seria o nosso meio de transporte até à entrada do forte.

A verdade é que a única maneira de se chegar ao forte era mesmo de elefante, mas nada destas deslealdades faziam sentido e por isso mesmo eu já nem arredava pé.

Naquele momento, o que me valia era a minha amiga, que apesar de também não estar a gostar nada destes episódios, me acalmava, pedindo para eu esquecer tudo.

DSC03958Saímos do táxi e com um sorriso contrafeito tentei pela milésima vez obliterar todas estas atitudes de gente que não idolatrava.

Como todos os nativos ou turistas, fomos de elefante até à entrada. A sensação era brutal e todo o esplendor do forte se aproximava a cada patada deste enorme mamífero.

Tirar fotografias era quase impossível. Ou melhor, impossível não era, mas as fotografias saíam todas tortas devido ao andejar balançado.

Finalmente no forte, é impossível ficar indiferente a tal venustidade. Grandioso e luxuoso, a sua arquitetura com detalhes minuciosos arrebata com a sua perfeição indescritível.

O forte de Amber foi erguido em 1592 sobre as ruínas de um velho forte. Do seu alto, a vista era alucinante e mágica. Uma muralha de cerca de sete quilómetros à volta da cidade, que servia outrora para proteger o rajá, fazia-nos crer estar perante uma pequena muralha da China.

Visita acabada a este soberbo forte, regressámos às nossas origens, o taxi. Com destino à cidade de Jaipur, o taxista parecia outra pessoa. Com um enorme sorriso, falava connosco como se nada fosse. Eu até estava a estranhar, mas bastaram apenas alguns minutos, para perceber a razão de tanta simpatia. Disse que era muito chato se o guia tivesse de pagar a nossa entrada no forte.

Farto destas atitudes, por perceber que queriam apenas ficar com o dinheiro, tentando enganar-nos a cada instante, entrei em erupção. Resmunguei em alto som que não iria pagar nem mais um tostão. De seguida, pedi o número de telefone da agência e imediatamente o condutor nos devolveu o dinheiro, com cara de poucos amigos.

Amuado, começou a falar com o guia apenas em indiano e nós acabámos por fazer o mesmo, falando apenas em português. A verdade é que se gerou um mal-estar entre nós. Toda a deslealdade e falsa fé estavam a tornar esta pequena odisseia numa viagem inesquecível, mas pelas piores razões. Um silêncio avassalador acabou por entrar em ação, onde não havia um único sorriso.

E assim foi, todo o caminho até chegar à cidade de Jaipur.

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