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O baleeiro açoriano que representa todos os portugueses do Canadá

A cônsul-geral de Portugal em Vancouver, Canadá, considera a inauguração no sábado do monumento de homenagem ao baleeiro açoriano Joe Silvey um “reconhecimento” à comunidade portuguesa na Colúmbia Britânica.

“É um 25 de abril inesquecível para qualquer português que viva em Vancouver ou na Colúmbia Britânica. Pelos nossos números são 35 mil”, afirmou à agência Lusa a diplomata, após a inauguração do monumento, na madruga de hoje em Lisboa.

“A nossa presença é mais conhecida na costa atlântica, somos mais conhecidos na pesca ao bacalhau na Terra Nova, e em Toronto”, pelo que a estátua “é o primeiro reconhecimento do contributo dos portugueses para o desenvolvimento da região” junto ao Pacífico.

Por outro lado, é uma estátua que liga “a cultura portuguesa e a cultura tradicional dos povos Salish da região”, algo que a diplomata considera “único”.

Foi erguida uma estátua de cinco metros em homenagem a José Silva, que partiu da ilha do Pico em 1860, e foi um dos primeiros ocidentais a instalar-se na zona onde é a atual Vancouver.

A memória histórica do português está diretamente relacionada com o respeito dos povos indígenas, já que Joe Silvey foi defensor das populações locais, tendo casado duas vezes com índias.

O antigo cônsul-geral de Portugal em Vancouver, Carlos Amaro, agora em serviço em Manchester (Inglaterra) foi um dos principais dinamizadores do projeto e fez questão de marcar presença.

“Foi um projeto que iniciei em 2010. Foi difícil convencer as pessoas de que era possível fazer algo, de juntar a comunidade portuguesa. Mas graças ao grande empenho e contributo da comunidade portuguesa foi possível”, enalteceu.

Para Carlos Amaro, este monumento “não só representa a história do nosso português Joe”, mas também identifica uma comunidade portuguesa “que se juntou e que conseguiu concluir um projeto que vai definir também a cidade de Vancouver”.

O monumento, localizado em Stanley Park, foi concebido pelo bisneto de Silvey, o escultor Luke Marston, e inclui a estátua do baleeiro açoriano e das suas duas esposas nativas, sobre uma calçada portuguesa, para fazer a ligação ao país de origem.

O escultor salienta que o projeto inicial identificava-se apenas “com a família e as suas origens”, mas atualmente segue mais uma linha de “multiculturalismo”.

“Agora tem mais a ver com o Canadá, a Columbia Britânica, Vancouver”, explicou.

A comunidade portuguesa teve um papel ativo na organização da obra de arte, um “orgulho” para o também Filomeno Jorge, que também é originário da ilha do Pico.

“É um orgulho ser picoense, ao deixarmos esta marca no Stanley Park”, disse.

Joe Silvey casou-se com Khaltinaht, neta respeitada do chefe Musqueam, Kiapilano, com quem teve dois filhos. Após a morte da cônjuge, voltou a casar-se com uma segunda índia nativa, Kwahama Kwatlematt, tendo mais nove filhos.

Vindo de Chicago, nos Estados Unidos, José Carlos Teixeira, professor de geografia urbana e social na Universidade da Colúmbia Britânica, destacou a originalidade de Joe Silvey, num tempo em que os brancos não respeitavam os nativos locais.

“É um caso único. Um matrimónio de um europeu com uma mulher das Primeiras Nações” e “ele foi um empresário de sucesso”, salientou.

O governo açoriano esteve representado pelo diretor Regional das Comunidades Paulo Teves, recordou o carater pioneiro dos habitantes na região.

“Foi uma lição que deixamos às gerações futuras, num caso de sucesso que no futuro ainda será encarado com mais otimismo”, frisou.

Oficialmente, há 429 mil portugueses e lusodescendentes no Canadá (census 2011), mas calcula-se que existam cerca de 550 mil, estando a grande maioria localizada na província do Ontário. Estima-se que na Colúmbia Britânica existam cerca de 35 mil.

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