Mourah não é uma novidade no panorama musical português e é sem duvida um dos músicos portugueses que tem tido junto da imprensa internacional o reconhecimento geral. Dono de um grande talento e de uma humildade desarmante, Mourah regressa de coração aberto com “Kardia”.

Ao longo dos dez temas deste álbum, revela-se um mundo tão sensível e refinado como surpreendente na sua diversidade musical. O coração dele bate tanto pela eletro, a soul e a pop, mas igualmente pelo rock alternativo, não sem desvendar um certo lirismo através de ataques vocais sustenidos, reforçado por uma orquestra de câmara que vem sublimar a obra no seu todo.

A liberdade enche-lhe o coração: esta fusão de estilos permite-lhe evitar qualquer tentativa de etiquetagem. Um artista não deve submeter-se às pressões das tendências, nem às expectativas dos críticos. Este aspeto ganha ainda mais força numa época em que o consumo da música passa frequentemente pela compra de temas isolados em detrimento duma obra completa. A liberdade do Mourah, aqui traduzida por um ecletismo estilístico personalizado, traz outra pergunta que merece ser colocada: o formato do álbum, enquanto conceito homogéneo e continuo, fará ele ainda sentido hoje em dia?

No entanto, “Kardia” não é desprovido de fio condutor ou de unidade. A voz cristalina e profunda de Mourah, ao mesmo tempo frágil e potente, serve de guia nesta viagem pontuada de amostras sonoras gravadas no Porto, em Bangkok, na Índia, em Genebra e Nova Iorque.

Mourah nasceu em Cascais mas emigrou, ainda criança, com os pais para a Suíça onde atualmente vive. Em 2005 editou o seu primeiro disco, “From One Human being To Another”, a que se seguiram dois Eps, um de remixes do primeiro álbum e outro com originais.